segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Da própria sombra






















Chegaste ao mundo, a mesma hora, comingo unida,
Colada, atada, enlaçada, a mim amarrada.
Eu era luz, o som do riso e tu silenciosa e enegrecida.
Mesmo assim, parecias presente em toda a minha vida.

Por tantas questões todos podiam ir-se embora,
Em um tempo, em um momento, a qualquer hora.
Mas tu, não! A mim continuava fortemente ligada,
Fosse eu uma mulher de hábitos de santa ou endiabrada.

Sob a luz clara, brilhante e forte do Sol te apresentavas,
Sob a luz pálida e nebulosa da Lua quase desvanecias,
Mudavas ao sabor do momento, mas eu sabia, existias!   
        
De todas a única presença com quem sempre esperei contar,
Bastava a cabeça inclinar, os olhos girar, te procurar, estarias lá.
Feito irmã siamesa, pela sina unida, que não se pode separar.

Como mente a vida! Como se embaça a visão! Como se engana a percepção.
Somente hoje, quando penso e avalio, noto com enorme decepção...
Que nos momentos escuros e sombrios, presente em meus caminhos,
Ha! Minha sombra... estavas comingo não.

domingo, 30 de agosto de 2020

Gafanhotos




Tenho saudades dos gafanhotos.
Grandes, imensos, escuros e feios.
Amarrados com linha branca,
Para eles um cerceio.

Pegos pelo meu pai,
Postos em minhas mãos.
Um tesouro inestimável,
Animal de estimação.

Porém, a noite na calada,
Mãe, me achando amalucada,
Libertava-os da escravidão.

Eles, contentes se iam.
Ele mentia e contava, fugiram!
Fazia-me um dengo, dizia, chore não.

Se foram no escorrer do tempo,
Meu pai, os gafanhotos, a ilusão.
Não há mais crianças enganada,
Não tem ninguém a dizer-me...
Chore não.

sábado, 29 de agosto de 2020

Por onde ando?



Por onde anda eu?
Se me procuro não me acho,
Se falo, não escuto,
Se sinto, adormeço.
Por onde anda eu?
Que ria mais a cada dia,
Geralmente pura alegria,
De ser somente, eu.
Por onde anda eu?
Que o mal não via,
E a dor? Nem sentia!
Por onde anda eu?
Nas gavetas das cartas velhas?
Nas antigas fotos amarelas?
Na poeira do passado?
Nos sonhos definhados?
Nos planos abortados?
Por onde anda eu?
Esquadrinho-me a cada instante,
Busco a mim em um constante,
E por me ver ser tão inconstante,
Triste em mim perambulante,
Não consigo responder.
O que era, o que sou, o que vou ser...
Por onde anda eu?

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Pedras no caminho


Camponês homem e da mulher Batatas Plantando, 1885 por Vincent Van Gogh (1853-1890, Netherlands) | Museu De Reproduções De Arte Vincent Van Gogh | WahooArt.com~
Que eu não seja algoz dos companheiros
Que como eu ligeiros passam pela vida,
Sentido na carne a dor de todas as feridas,
Criadas por nós mesmos.

Não seja a minha mão a atira a pedra,
Que pode destruir os sonhos,
Que serve de algoz medonho,
Aos andarilhos tristonhos.

Não posso me alvora em ser juiz,
Nem mesmo em ser carcereiro,
Tao pouco o que atem a corda,
Nos pescoços dos andadeiros.

E as pedras que em minha mão tomar,
Nunca sejam para em outros arremessar.
Esse agachar, seja somente para limpar,
Os caminhos que passei e outros irão passar.



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Percurso da alma


Besurrantak hozzám régi éjszakák, leplükkel takarva tiszta szenvedélyt, szürke, néma sóhajtásnyi csöndek reszkettek vágytól éhes percekért. Függönyrojtok bársonyába szökve titkok ültek hold-sütötte rögre, körbefont az álomszerű csoda, dalolt a múlt, szívem volt a kotta. Hazudtak az arra járó szelek melódiát játszva a zsindelyen, az éj sötét zegzugába rejtve reményem bújt - újabb csatát vesztve.
Como em uma esteira rolante no universo,
Minha alma percorre o espaço e o tempo.
Há tantas eras sendo o verso e o inverso,
Que nem recordo se o que fui, continuo sendo.

Habitando corpos entre si tão diferentes,
Numa cadeia do mais denso ao sutil,
Saio da condição de ignorância para senciente,
Da pedra à arvore, do troglodita ao ser gentil.

Neste difícil e longo percurso divinatório,
Cometo erros pesados, dolorosos e grassos.
Mas, minha alma continua nos seus passos.

Não desiste, apesar de toda demora,
Essa alva senhora, em aprender a deixar...
De noite escura ser e se tornar o alvorecer.

Mallika Fittipaldi. 2020

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Quando a peste acabar...


MEU MODO SUAVE DE ESCREVER": Um Abraço Forte...Amigo
E quando acabar... há! Quando acabar!
Eu vou as janelas abrir, par a par.
Escancarei a porta, todas a portas,
Liberta, do medo de respirar...

Sairei a ás ruas, para nos caminhos caminhar.
Pisarei as calçadas sem calçados,
Sentirei nos pés a terra, nos pulmões ar,
O vento os cabelos a desgrenhar.

E quando acabar... há! Quando acabar!
Roubarei as primeiras flores que encontrar,
Do jardim do vizinho, da praça, de qualquer lugar.

As oferecerei a você com plena alegria.
Enlaçarei você, te cingirei nos meus braços,
E sentirás no coração, o amor no meu abraço.

(Aguarde em breve com o fim da Covid milhões de abraços)
Mallika Fittipaldi

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Pedaço de mim


Beleza Pedagógica: Espelho, espelho meu!
Que sejas a chama que me aquece,
O ar para que não me sufoque,
A terra bendita, bela em que piso,
A água que tanto preciso.

Sejas o calor em meu corpo,
Nos pulmões o divino sopro,
O chão que me sustenta,
O sangue que me alimenta.

Imprescindível tua presença
Indispensável que a mim pertenças
Imperioso comigo estejas.

Não existo sem você tenha certeza,
Peço, desejo que assim seja.
Eu e você somos uma.

Se me perdi nas esquinas escuras das bobagens,
Nos becos sem saída das minhas ambiguidades,
E não me reconheci nos meus espelhos,
Perdoe...

Sou eu quem me procuro agora!
E antes que bata no relógio a última hora,
Quero, sim estar inteira
Eu, completa, comigo mesma.

Mallika Fittipaldi

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Mulher cão



Como um cão leal ao seu dono,
Devotada é ao seu amor e amo.
Jamais poderia iludir ou enganar,
Nunca a fidelidade pôde abandonar.

Segue-o por todo lugar,
Com o corpo, com o olhar.
Estar sempre ali disposta a se dar.
E dá tudo de si sem pestanejar.

 Não lembra da própria vida,
O sonho mais caro enterrou,
Vive de si esquecida... por amor?

Seus olhos espelham o que se tornou,
Um cão doméstico, pelo dono esquecido,
Que por fidelidade se anulou.

Mallika Fittipaldi.



domingo, 23 de agosto de 2020

Mulher pássaro


#wattpad #mystery-thriller I wasn't my own person anymore, I was property.  The property of a man which had pulled me out of a dark place, to shove me to another. And now, I can't run anymore. --- This, is the story of my life- correction, this is the story of how my life was taken from me. *Warning* This story contains matu...
Mulher pássaro podes voar quando quiser.
Ir a tantos lugares, assim que ambicionar.
Alça voos ao infinito, ao céu se lançar.
Basta querer tuas formosas asas bater.

No entanto, vejo-te inerte e sem vontades,
Acostumaste com tantas inverdades...
De que voar seria tolice, asneira, bobagem,
Acreditastes, cedeste ao que disseram, e morgastes.

Sem real corrente a te prender os anseios,
Anulastes, tuas aspirações, ainda no seio,
Pondo fim as ambições no tempo parastes.

Se tornando um pássaro, em gaiola, enjaulado.
Pela própria vontade, em prisão encarcerado,
Sem perceber, ali a frente, aberta a porta do engradado.

sábado, 22 de agosto de 2020

Solidão amiga


Balthasar Denner. Alte Frau mit goldgelbem Kopftuch



















Solidão que me acompanha desde tenra idade,
Faz-me sentir feliz agora na última idade.
Porque nesses derradeiros momentos,
Por viver só, acostumei-me a esse sentimento.

Sempre amiga, companheira, tão presente,
Preenchias-me e eu não sentia a vida ausente.
Caminhava meio aos espinhos contente,
Na ignorância de tua presença... insanamente.

Quem passa pela vida como eu,
Solitária na tua companhia,
Aprende a se vira sozinha.

E as aflições solitárias da velhice,
Se tornam mais leves e cômodas,
Como se tu, solidão, as banisse.

mallika Fittipaldi. 22.08.2020

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Mulher corvo


Mulher de negro, de luto e dor, onde andas o teu amor?
Fria mulher, rija carnes solitárias que aos homens causam temor.
Não te bastou a morte, antecipada, imatura inesperada,
Do ser a quem dedicaste tua existência, tua vida malfadada?

Já não secaram o cântaro dos olhos, as vertidas lagrimas salinas,
Não te cansantes ainda, do túmulo do amado, tuas indas e vindas?
Insiste infrutiferamente, naquilo que jamais sera como dantes.
Só restos, carnes putrefatas, mau odor, sobrou do teu amante.

Pareces um corvo negro, um arauto da morte, um mau pressagio
Um animal condenado, vindo das sombras, da luz um extraviado.
Sem te importares com o que passa agora ao teu lado.

Una-se aos corvos, pelo destino condenados, a grasnar eternamente,
A lançar gritos, inúteis, dilacerantes de ódio e dor continuamente
À divina dita , que é morte, de todo ser vivente.