terça-feira, 8 de setembro de 2020

Eu,eu,eu


You love the song but not the singer | Flickr - Photo Sharing!

Tudo é eu, sempre eu.
Flagro-me sempre no eu.
Egoísta e egocêntrica.
Eu desejo aquilo,
Eu preciso disso,
Eu sinto isso.
E enquanto eu viver só no eu,
Serei meu centro e pesadelo.
Atada a um pequeno ser,
Mesquinho, cheio de preconceitos.
Que só pensa em si,
Sem mais nenhum anelo.
Liberdade eu preciso!
E quando isso digo...
Tristeza imensa sinto...
Pois vejo que insisto,
Desse eu não desisto.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A Graça de se estar vivo



Rope jumping gang . South Africa
Existe Graça em estarmos vivos,
Gratidão, a dádiva divina que nos mantêm vivos.
Mesmo após essa vida, ditos mortos, vivos.
Sempre, sempre, sempre vivos.

Vivos...
No momento que o Sol nasce, desponta,
Dourando o dia, com ouro, o céu de ponta a ponta.
Cada vez que o vento assovia cortante entre as janelas,
E aos filmes de terror esse som nossa mente atrela.

Vivos...
Quando zumbe os besouros, e gorjeiam pássaros nas janelas,
E a chuva cai fria, bela e insistentemente no seio da terra,
Que a abraça, como se cinge um amante, e frutifica em flor.
Colorindo o mundo com mais vida e mais amor.

Vivos...
Para tocar com ternura impar quem se ama,
Com esperança, no coração, sendo uma eterna criança,
Infindavelmente recomeçando nas coisas simples e misteriosas,
Que a vida concede, como os benefícios de uma mãe bondosa.

Vivos...
A Graça de se estar vivo em todos os eventos,
A todos os belos e divinos, detalhes da vida atentos.
Sendo felizes com o que temos, somente de luz sedentos.
O importante, o essencial, é só isso... vivos no momento.

domingo, 6 de setembro de 2020

Ser “a senhora”

O cão que comeu o livro...: A ler à sombra do girassol / Reading by the sunflowers...
Marcos Llussá - Arte
Não esperava ser velha, torna-me “a senhora”.
Pode furar as filas, ser atendida com menos demora.
Ter um assento especial, nos lugares, gravado idoso (s).
Ter um esqueleto frágil de ossos porosos.

Subir escadas ofegante, mesmo que muito, muito lentamente,
Ver as pessoas cederem, a mim, seus lugares contentes.
Perceber repentinamente, em espanto, que me foi a mocidade,
Que possivelmente, esgueira-se pela minha porta, a senilidade.

Não esperava ser velha, torna-me “a senhora”.
Uma idade que se me torna frágil, testemunha que fui resiliente.
Que venha então a boa idade e possa aproveitá-la profundamente!
Saboreando todas as boas facetas da vida nessa hora.

Vendo em cada ruga as minhas histórias de derrotas e glórias,
Os brancos fios de cabelos, pintados de ouro, louros de vitórias,
Jubilo-me de ter envelhecido, ter aqui chegado, ter sobrevivido...
Quando tantos, caíram pela estrada, precocemente sucumbidos.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Flor da agonia


A escrita é a pintura da voz" (Voltaire)
A minha dor, tão presente, é criação somente minha.
Nela invisto, certamente, energia todos os dias,
Cultivando-a com presteza, como flor de rara beleza,
Amando-a, alimentando-a, curando-a das mazelas.

Nada consinto que abale sua exuberância,
Das minhas crias, a trato como a de maior importância,
Não permito ocorrência que diminua seu tamanho,
Será sempre minha dor, amanhã, hoje ou no antanho.

Para que floresça forte, firme, eternamente,
Faço-me das coisas sublimes e alegres ausente,
Como se não tivessem existência em minha vida.

Olvido, por estupidez, todas as bênçãos que possuo,
Fico ausente e cega à exuberância da natureza,
Sempre escolhendo, por própria vontade, à dor ficar presa.

Sou eu, somente eu, que alimento essa flor infernal e dolorosa,
Que a rego como se fosse a mais exuberante das rosas,
Desatenta de que para mim, para existir o jubilo e alegria,
Bastaria deixar morrer essa flor em sua própria agonia.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Opção por fenecer

Beautiful Surreal Figurative Artwork by Aykut Aydogdu | Netfloor USA
Aykut Aydogdu - Arte


Só pode ser demência e loucura,
Essa vontade forte e obtusa de viver.
Como explicar esse sôfrego prazer,
A paixão pela vida que gera o sofrer.

Amor e ódio, na existência opostos e tão desiguais,
No fim, em nossas almas, doem do mesmo jeito, tanto faz.
Viver, parece ser formidável, mesmo sendo tudo dramático.
Pois, todas as coisas que amamos, terá um último ato.

Ébrios e tolos insistimos na vida sem compreender,
O que nos leva a persistir continuamente, a insistir em viver.
O que nos sustem nesse palco, o que nos prende, o que viemos fazer?
Ninguém realmente, com certeza, pode responder.

A vida é vinho, ópio, droga doce e inebriante.
Talvez um dia, se sóbrios por alguns instantes,
As agruras das vidas claramente possamos ver.
Então, preferiremos, nesse segundo fenecer.




quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Saraus de outrora

Arturo Ricci - The recitation
Saudades das grandes saias rodadas e rendadas,
Do colo das senhoras a mostra e amostradas,
Das luvas finas, alvas, transparentes e bordadas
Do barulho atraente das mil usadas anáguas.

Do piano de cauda, tocado no salão com maestria,
No silencio respeitoso que então se fazia,
Onde todos se embebedavam de música e poesia,
Que a mente e alma por completo preenchiam.

Como não sentir saudades de belo passado,
Mesmo sem saber se verdadeiro é o lembrado,
Mas, se sonho for, sofro por ter terminado.

Poderiam ter estancado todos os relógios, parado o tempo.
Como numa pintura antiga, romanesca, instante perfeito,
Na verdade, sei não é sonho... é de outra vida que lembro.


terça-feira, 1 de setembro de 2020

Aflição antecipada



Aflige-me, o que ainda não ocorreu.
Atinge-me, o que não aconteceu.
Perpetua-se, a dor ainda não sentida.
Faz-me triste, vida ainda não vivida.

Estou sempre um passo à frente do tempo,
É tortura sei, asneira... isso lamento.
Não conseguir ficar no aqui e no agora,
Da angustia talhante não ser senhora.

Adoro, quem sabe esse tormento,
Por isso o repito, mesmo sem contento.
E vivo no futuro sempre aterrador.

Talvez nem ocorra os males que pressinto,
Seja apenas a mente torta e angustiada,
A fazer-me sentir, o que eu sinto.