quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Olhar pela janela.

Dalí – FIGURA NA JANELA - VÍRUS DA ARTE & CIA.
Sempre olhei pela janela.
Via os bondes passarem puxados por seus cavalos.
Senhores de terno e cartolas balançavam suas bengalas.
E saudavam com seus chapéus as jovens e as senhoras.
Estas de longos vestidos e chapéus com plumagem gorjeavam sorridentes.
Crianças ao colo, enlaçadas pelas mãos das mães olhavam o mundo admiradas.
A igreja aos domingos ficava repleta de fieis.
Em busca da paz de Deus.
O pão cheirava fresco e o leite era entregue às portas em garrafas.
Podia-se deixar a porta aberta para a vizinha entrar.
E ela entrava com a fatia de bolo, o pedaço de pudim, o quindim.
A família era grande e na hora das refeições preenchíamos grande mesa.
Sempre olho pela janela.
Vejo os carros a passarem em alta velocidade poluindo o ar com seus sons e odores.
Homens apressados, bem ou malvestidos trafegam como sonâmbulos pela rua.
Não há mais saudações e sorrisos entre as pessoas.
Mulheres em roupas apertadas quase correm pelas ruas. Será medo?
Crianças sem pais trafegam com cola a mão que inalam em desespero.
As portas estão sempre trancadas.
Não conheço a vizinha, nem a vejo.
Não há mais toque de sinos aos domingos.
A igreja fechou suas portas.
A família se espalhou pelo mundo.
Minha mesa é pequena.
Como minha vida.
Como minha alma.
Presa sem pensar,
No corre-corre do dia-a-dia.

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