Era um anjo.
O anjo mais feio que já existiu.
Suava muito. Às vezes, ocupada em seus afazeres, não se
banhava.
E o seu odor empestava o ambiente.
Até que a noitinha vinha e se banhava em folhas de alfazema.
Aos seus pés então vinham os pequeninos.
Os pestinhas da rua.
Sentavam quietos e ouviam suas histórias.
Histórias de anjos, dragões, príncipes e princesas,
Que mostravam que ser bom é bom.
Mal nascia o dia e anjo despertava.
Amarava seus cabelos brancos em longa trança.
Olhava no espelho sua pele de terra seca.
Seus braços de peles sem viço.
E suas ervas.
Começava a romaria ao anjo.
Que rezava o mau olhado.
Benzia o quebranto.
Fechava o peito.
Dava conselhos.
Acolhia em seu colo os desiludidos.
Esquecia de si o anjo.
Passava a hora das refeições e não comia.
Em horas que ficava só.
O anjo rezava e parecia reluzir em paz.
Enquanto eu via um anjo.
Outros só uma anciã.
Uma benzedeira.
Na sua partida muitos choraram.
Eu não.
Sabia que era um anjo.
E com certeza estaria agora no céu.
Contanto histórias para os pequenos que lá estavam também.
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