terça-feira, 4 de março de 2008


Guerreiro.

Da África livre e indomável.

Da liberdade incondicional.

Da dignidade como ser humano.

Foste retirado.

Lançado sem destino certo.

Em um grande lago salgado.

No porão imundo de um navio negreiro.

Resistisses à dor, a peste, ao banzo.

Oraste aos teus deuses e ele não te ouviram.

Pois, era esse o teu caminho.

Fazer crescer outros mundos.

Com teu suor, com teu trabalho, com tua dor.

Desesperado olhava teus irmãos e teus inimigos.

Presos num mesmo local.

Crianças nasciam na imundice.

E eram abraçadas como o que são, dádivas.

Chegastes a terras frias do norte.

Teu corpo enregelou.

Teus olhos contemplaram outras belezas da natureza.

Outros animais, outras plantas, outras estrelas a noite.

Forçado a trabalhar não se desse por vencido.

No tronco ou no chicote.

Não perdesses tua altivez.

Cativo sim, prisioneiro sim, escravo nunca.

E numa noite de chuva fugistes.

Os cães e os brancos te perseguiram.

Teu coração disparava.

Cada músculo cada nervo doía.

Mas, era a ultima tentativa.

Tu o sabias.

Cada vez mais perto os uivos, as vozes.

Até que o som te trespassou.

Jorrou tua vida pelo teu coração.

Caíste num solo que não era o teu.

Deixaram-te para ser devorado pela natureza.

Em poucos instantes, porém outras vozes.

Vindas da Mãe tu ouviste.

Teus antepassados, teus deuses.

Nanã veio te buscar.

Colocar-te no seu ventre.

Para que renascesses como novo guerreiro.

Cor de ônix.


Nenhum comentário: