segunda-feira, 8 de março de 2010

Infância.



Da doce infância trago saudades.

Dos barcos de papel em dia de chuva forte.

Da busca de gafanhotos no matagal.

Do areal cinza quase do tamanho do mundo.

Das historias da irmã à noite.

Dos brancos braços da mãe apertando-me.

Da voz chorosa de vovó ninando-me.

Do imenso corredor povoado, à noite, por fantasmas.

Dos bonecos de louça branca intocáveis.

Das saúvas em marcha ininterrupta a roer folhas.

Das histórias sobre o mar e os padres desaparecidos.

Do cheiro de melancia que nos fazia sair d’agua marinha.

Das águas vivas, borbulhas, na areia.

Do leve riso zombeteiro da primeira amiga.

De andar de cavalinho nas costas do meu pai.

Dos natais pobres.

De pouco presentes.

De estarmos juntos.

A porta da casa ouvindo estórias de terror.

Da doce infância trago saudades.

Mas, não mais, trago dor.

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