Já foste belo meu carcereiro!
Me destes tantos prazeres e gozos
Levaste-me a tantas aventuras
Fizesse-me rir de tudo,
Encantasse-me com um primeiro amor
Com tantas primaveras de profusas flores
E arrebatasse-me com milhões de cores.
Arrastasse-me para mil conquistas;
De poder e posse tão desejadas,
De comandos soberbos irrevogáveis,
De reinos onde reinamos incontestáveis.
Pelas tuas mãos abri milhares de livros,
Com teus olhos li tantas estórias,
Embriagada achei-me sábia por isso...
Tantos prazeres concedesse-me
Que não percebia a tua doce obrigação
De carcereiro e companheiro
Na tua dolorosa missão.
Foram-se os dias primevos,
A pubescência e a consciência juvenil,
O ouro de tolo do falso “eu reino”.
Sem senti-me ser pequeno e tolo.
Invernou em branca neve nossos cabelos,
O frio rachou em dores nossos ossos,
Envelhecemos nessa prisão estadia.
Reconheci-te então como meu masmorreiro
Reconheci-me como teu ocupante.
Devolvo-te agora a Mãe Terra aconchegante
Que te abraça neste teu último janeiro.
Demo-nos prazer simultâneo a dor,
Caminhamos cegos, juntos iguais a frater e soror.
Enquanto desce a esse túmulo úmido e acolhedor
Parto para as estrelas até ouvir novamente teu clamor.
Então, entre riso e lágrimas, primaveras e outonos,
Reiniciaremos como corpo e alma novas venturas.
Criando novo livro de vida onde os heróis somos sempre
Eu e Tu.