sábado, 29 de abril de 2023

A alma e o Corpo


Já foste belo meu carcereiro!

Me destes tantos prazeres e gozos

Levaste-me a tantas aventuras

Fizesse-me rir de tudo,

Encantasse-me com um primeiro amor

Com tantas primaveras de profusas flores

E arrebatasse-me com milhões de cores.

Arrastasse-me para mil conquistas;

De poder e posse tão desejadas,

De comandos soberbos irrevogáveis,

De reinos onde reinamos incontestáveis.

Pelas tuas mãos abri milhares de livros,

Com teus olhos li tantas estórias,

Embriagada achei-me sábia por isso...

Tantos prazeres concedesse-me

Que não percebia a tua doce obrigação

De carcereiro e companheiro

Na tua dolorosa missão.

Foram-se os dias primevos,

A pubescência e a consciência juvenil,

O ouro de tolo do falso “eu reino”.

Sem senti-me ser pequeno e tolo.

Invernou em branca neve nossos cabelos,

O frio rachou em dores nossos ossos,

Envelhecemos nessa prisão estadia.

Reconheci-te então como meu masmorreiro

Reconheci-me como teu ocupante.

Devolvo-te agora a Mãe Terra aconchegante

Que te abraça neste teu último janeiro.

Demo-nos prazer simultâneo a dor,

Caminhamos cegos, juntos iguais a frater e soror.

Enquanto desce a esse túmulo úmido e acolhedor

Parto para as estrelas até ouvir novamente teu clamor.

Então, entre riso e lágrimas, primaveras e outonos,

Reiniciaremos como corpo e alma novas venturas.

Criando novo livro de vida onde os heróis somos sempre

Eu e Tu.

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