Pranteio os que foram abandonados.
Porque esqueceram de si mesmo.
Porque os olhos já não vêem a luz solar.
E a boca murcha perdeu dentes.
E as palavras se atropelam na garganta.
O rosto cheio de sulcos.
O riso meio louco.
E os gestos vazios sem sentido.
As vestes sem modelos.
Os cabelos em desmazelo.
Alvos, brancos, nuvens de neves.
O cheiro da velhice que cisma contra o banho.
Medo da dor nos ossos.
Pranteio os que foram esquecidos.
Em suas histórias contadas setenta vezes sete.
E a mesma risada para a antiga piada.
A tristeza pelo suco derrubado à mesa.
Pelo engasgo constante com a comida.
Pelo silêncio constrangedor a sua fala.
Pranteio com eles.
Pela vida que já tão comprida se torna curta.
E temem pelo que vem.
Sem terem a certeza de para onde vão.
E clama pelos irmãos que partiram.
Pelos pais que já há muito seguiram.
E que no leito, no seu último dia parecem clarear a mente.
E conversam conosco como há muito não faziam.
E apontam: veja minha Mãe, minha irmã Maria!
E com um sorriso de harmonia.
Desencarnam em alegria.
2 comentários:
Gostei do poema.
É excelente.
A velhice vista pela Conceição é muito poética...
Um beijo.
A velhice vista de uma forma metafórica, num poema muito bem conseguido. Parabéns pela inspiração.
Abraço
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