
Avó Tila.
Esqueceu de mim?
De como me punha no colo
E cantava as canções de ninar.
Levava meu paninho, minha fralda velha, para eu cheirar.
E no seu colo de senhora
No seu cantar monótono e longo
Eu adormecia, enquanto ainda era um anjo.
Esqueceu de mim?
Das brincadeiras de fingir de morta
E pular repentinamente como quem ressuscitou.
Dos carinhos que fazia na minha cabeça
O cafuné tão bem aplicado.
Esqueceu de mim?
De como me dava à mão ao atravessar a rua
E me mostrava à fumaça saindo do cigarro enquanto dizia:
“assim, como essa fumaça que se desfaz rapidamente é a mocidade que se esvai”.
Ou puxava a pele da mão enrugada
Que não retornava logo ao lugar.
“Vê, sinal da velhice”.
Foi-se sem eu ver.
Estava longe.
Estava triste.
De sua maneira gostava de ficar conosco.
Partiu.
Esqueceu de mim?
Eu não a esqueci.
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