Conselho

Destarte a sorte dos humanos,

De viver pouco, muitos poucos anos.

Insisto em viver bem.

Sim! Desistir da vida é estultice,

Parar no tempo maluquice!

Correto andar sempre à frente.

Sem temer em demasia os percalços,

Nem pegar falsos atalhos.

Enfrentar o que vier,

De cabeça e ombros erguidos.

Não necessário se sentir afligido.

A vida é boa como ela é,

Altos e baixos, prazer e dor.

Tudo faz parte do plano divino.

Não estanque a vida te previno,

O arrepender-se brotará...

E tu ainda em vida...

Morrerás.

Mallika Fittipaldi. 15/08/2020.

Enganos

 

Somente enganos me perseguem.

A frente o tempo me corrói.

Que fiz para merecer esse teste?

Não posso, isso me destrói.

Se toda a vida perseguir a verdade,

Ela de mim tão bem se escondeu.

Errei, agora sei, triste realidade.

De mim ninguém se compadeceu.

Se avulto a dor dos meus pecados,

É porque busco o meu perdão.

Procurando encontrá-lo ali, logo à mão.

Desistir da ventura da certeza...

Nunca veio a minha mente.

Na busca d’ela continuo persistente.

Haverá então outros presentes?

Continuarei a erra eternamente?

Ou enganoso futuro me aguarda?

Em que momento da existência,

Não sentirei n’alma a nostalgia,

Da nobreza juvenil que eu tinha.

Mallika Fittipaldi. 14.08.2020

Morto o desejo

Não amo mais teus braços fortes,

Nem te desejo o beijo agridoce,

Não te busco durante as noites,

Nem te anseio os rijos seios.

Já não sinto falta e nem te anseio.

Causastes a mim dores tão grandes,

Que meu coração em desmantelo,

Já não bate, se arrasta em desmazelo. 

Sendo o amor doado malcuidado,

Que me adianta a cisma de mantê-lo?

Melhor que seja abominado!

E se a noite, me ocorre a febre do desejo,

Juro, prometo, asseguro que o apedrejo.

Até o assassinar em meu leito.

Mallika Fittipaldi. 13.08.2020

Desejos findos

De sonhos, fiz a minha vida,

Os desejos fizeram-me feridas,

Rasgou-se o corpo da carne,

Feriu-se a alma debalde.

Nem tão grandes eram os desejos,

Grandes coisas ainda não almejo!

Mas, a faca garra da existência parca,

Cortou meus idílios... coisa amarga.

Natimortos sonhos e quimeras.

Sufocados pela alongada espera,

De se fazerem reais, de existirem.

Aguardando serena a sua morte.

Acompanho abandonada à sorte,

Do meu último sonho consorte...

Mallika Fittipaldi. 12.08. 2020

Pássaro, passarás...

Busco enfeitar minha vida com alegria

Ser mistura de amor e fantasia.

Alguém livre completamente, por inteiro

De qualquer dor ou desespero.

Andar leve e solta como pássaro bailarino

Que no ar traça voos de dançarino.

A estoura o peito, em gorjeio de contentamento,

Sem enxerga da vida os incontáveis tormentos.

Não sabendo que de todos o fim é eterno

Que lá na frente, no futuro incerto,

 Chegará ao seu coração o vazio ou o inferno.

Quero como ele viver na ignorância, na treva.

Desse saber que magoa e desespera.

Viver feliz como esse passarinho.

Mallika Fittipaldi. 11.08.2020

Quem te fala

Andre Konh - Pintura

Quem te fala são suas próprias dores,

Seus anseios e temores.

Escondidos em seu peito,

Amordaçados, abafados e sujeitos.

Porque não os abraçaste em teu leito,

Nãos lhes reconhecestes os feitos.

Somente os que esquecer rapidamente

Deles livrar-se peremptoriamente.

Há! Olvidar deles é esquecer de ti!

Eles te cunharam a vida, tua história.

Eles são, no fundo, as mais preciosas memórias.

Não os jogue em poço profundo e abissal,

Não lhe fizeram verdadeiramente nenhum mal.

Simplesmente te ensinaram a viver.

Mallika Fittipaldi. 10.08.2020

Amor mais que tardio

Ainda aguardo as escondidas

O amor perfeito sem perfídia.

Sonho em avançado estio

Em preencher meu vazio.

Sinto teu cheiro e inexistes

Certeza ainda não me vistes.

Mas, continuo a te esperar

Um dia hás de chegar.

Mesmo sendo no último momento,

No meu último e profundo alento.

Nessa hora estranha e fatídica,

Do corpo a alma em saída.

Pela primeira e última vez

Te verei... e serei feliz.   

Mallika Fittipaldi. 08.08.2020

Poema a uma reclamente

Reclamas, pois, te falo de tristezas

Mas, sou eu que te põe os pratos a mesa,

Te levanto para a lida,

E te faço aos teus dás guaridas.

Entristece-se pelas minhas rimas?

Elas são alertas a tua tão alta estima.

Ao teu orgulho dementado,

Ao teu ócio desvairado.

Te incomoda as verdades?

Agradeces a minha sinceridade

Te acordo para tuas puerilidades.

Não te enfasties as duras palavras,

Não te ires, eis que são só metáforas,

Possíveis resultados da vossa lavra.

Mallika Fittipaldi. 06.08.2020

Cão

Iris Scott - Pintura

Quem sabe um dia teve um dono

Um dono e não um amigo...

Que o abandonou as ruas

Sem nenhum abrigo.

Talvez esse pelo ralo que te cobre,

A pele seca e perebenta,

Tenha sido sedoso, cheiroso e belo.

E hoje parece resultado de escalpelo.

Podias ontem ter comida farta,

Mas, hoje sorte ingrata,

És relegado a fome.

A miséria humana em ti se desdobra

Pois, se o homem não fosse essa coisa má e torta

Não estarias jogado a própria sorte.

Sinos

Tocavam os sinos da capela iguais aos das catedrais.

Pelos sons das badaladas sabia-se mais.

Podiam anunciar a alegria da chegada de um filho

Ou a união de um casal em final de feliz delírio.

Avisavam sobre as festas da cidade interiorana,

Das quermesses enfeitadas pelas moças doidivanas.

Na busca desenfreada pelas suas almas afins,

Nos sonhos ilusórios de terem alguém para si.

Tocavam as campanas, lá no alto das torres brancas

Nas manhãs de domingo santas.

Chamando para a igreja os seus fiéis costumados,

Uns vestidos a puro luxo outros sujos e maltratados.

Badalavam as grandes sinetas em tempos alegres

Mas, tinha datas que tocavam em que choravam as mulheres;

Nas missas mortuárias ou no dia dos finados.

Onde eles avisavam que tudo tinha terminado.

Eram assim, tanto anunciadores da alegria,

Como mensageiros de dores e de agonias.

Hoje, repousam nos museus, mudos e esquecidos.

Não há mais quem lhes dê ouvidos.