Foi desde cedo adotado por um diabrete.
Um desses pequenos diabinhos.
De sorriso maroto, dentes branquinhos.
Sobre a cabeça dois pequenos chifrinhos.
Um pequeno rabinho que escondia direitinho.
Ocre como a terra.
Acima de tudo brincalhão.
Mas, era um diabrete.
Agia como um diabrete.
Divertia-se como um diabrete.
E a criatura que ele adotara possivelmente lhe era irmão.
Irmão de risos que obtinham torturando a todos que viam.
Na vila em que morava todos o conhecia.
O padre quando perto dele passava se benzia.
E ele ria e ria.
Um diabrete. Só podia ser um diabrete.
Os altos muros que pulava.
As subidas nos galhos mais altos e finos para roubar frutos.
As idas à tardinha ao cemitério.
Onde sob as lajes frias ficava a olhar o céu.
Na escola não havia que o agüentasse.
E a tia enlouquecia.
Os meninos as brincadeiras lhes temiam.
E cresceu assim.
A noite entrava em casa e sumia.
Na juventude rareou do mapa.
Era feito perna de cobra que ninguém via.
Foi para capital.
E o povo dizia que agora era lá que iria infernizar.
Voltou anos mais tarde.
Voltou como Dr. Andrade.
Já não era um diabinho.
No seu consultório todos eram recebidos.
Tratados com carinho, receitados e atendidos.
Sumira o diabrete.
Altruísta se tornara.
E até o padre o visitava.
À noite quando sumia.
No seu gabinete de estudo pegava uma garrafa.
E dentro dela preso o diabrete.
Que esperneava.
Aprendera a prender o que de si não gostava.
E agora fortalecido o diabinho soltaria.
Soltou.
O diabrete praguejou, tentou, tentou, tentá-lo.
Não conseguiu.
E envolvido numa nuvem de enxofre.
Para o inferno partiu.
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