Lousise De Hem.
A senhora.
Um pouco escuro. Como os seus olhos e seu olhar.
A senhora.
Um pouco escuro. Como os seus olhos e seu olhar.
Alguma coisa distingue mesmo sem precisar contemplar.
Os vasos antigos, a chaleira amassada todos sempre no mesmo
lugar.
Assim não os perde de vista... Se assim posso expressar.
Cada passo é um arrasto do chinelo velho, marcado, macio de uso.
No chão riscado pelo tempo e pelas suas ações.
São passos lentos, calculados para não ir ao chão.
As janelas e portas fechadas medo do ladrão.
A televisão apagada não chama mais a atenção
As novelas, para ela, depravadas os jornais sangue aos
borbotões.
Que não interessam que não ensinam, só aumenta o medo da
solidão.
Segue a vida entre o quarto, a cozinha, o banheiro e a sala.
Um universo repleto de baças lembranças e pó.
São os biscuit e pratos na cristaleira,
Não sabe por onde andam mais os copos, a poncheira e todos os
cristais.
Quem os levou? Que fim tiveram? Não importa...
O tapete roído pelo tempo sob a mesa pesada
De madeira e mármore que há séculos não tem suas cadeiras
puxadas, remexidas, usadas.
Muitas fotos nas paredes amareladas, tanto as fotos como a
tinta desgastada.
Há pessoas que reconhece. Outras se perderam na lembrança em
sua memoria que tanto falha.
Belo menino esse a sorrir para ela. Mas, quem será?
Continua a jornada em busca de um chá.
Porque hoje estar tanto a pensar.
Será que vem alguém a visitar?
Precisa se arrumar.
Mas, quem viria?
Filhos, netos, amigos?
Não se lembra de nenhum.
Vamos ao chá. A chaleira do fogo precisa retirar.
Que cansaço em seus pequenos passos
Precisa se sentar, descansar, dormir um pouco.
Um pouco...
O cheiro do gás a se espalhar
Escapando pelas frestas das portas e janelas
Os vizinhos a gritarem abra a porta!
O filho avisado, apressado, angustiado com a próxima reunião
empresarial.
Esbraveja: Mãe, mãe abre a porta. Estou atrasado mãe!
Silencio.
A velha senhora repousa dentro da sua camisola,
Sem saber a hora, sem sofrer,
Somente o sono eterno
O eterno desfalecer.
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