Meu torto amor.

Meu amor é torto

Como galho de árvore que nasceu a sombra doutros

E vergou-se para receber luz solar.

Meu amor é torto.

Pois, é capaz de mentir.

Só para se expressar.

Meu amor é torto.

Finge birra e bate os pés

Para no ombro amado me aninhar.

Meu amor é torto.

Defende o que ama

Mesmo sem pensar.

Meu amor é torto.

Que de tanto amor

Pode até me aniquilar.

Meu amor é torto.

Só vê o que ama

Deleitando-se a mirar.

Meu amor é torto.

É cego

É louco.

Meu amor é torto.

Mas, é o que tenho.

A ofertar.

Meu Pai.

Ato.

Ato.

Quando se planta uma flor,

Rega-se o amor,

Doa-se um sorriso,

Cria-se uma esperança,

Ama-se uma criança,

Estanca a vida para ver o pôr do Sol,

A Lua que no céu desponta,

A estrela que brilha sem cessar,

Cria-se uma idéia para o bem-estar,

Um plano para muitos ajudar,

Um trabalho para se doar,

São os homens que estão a se transformar

Em anjos que auxiliam outros a acreditar

Que a vida é o melhor que há

Sacola espiritual.

Sacola espiritual.

Na minha sacola coloquei

Meia dúzia de boas ações,

Três ou quatro perdões,

Dois ou três sacrifícios,

Algumas ajudas,

Uma centena de sorrisos,

Uma dezena de doação,

Outra de caridade,

Um só amor de verdade,

Alguns poucos vale-amizade,

Menos ainda trabalho de socorro.

Fechei minha sacola de viagem.

Partir para espiritual paisagem.

Onde milhões como eu

São miseras almas

Empobrecidas pela falta de amor.

Não há maior amor que o Teu

Não há maior amor que o Teu

Que respira a vida

Que cria constantemente

Trabalha eternamente

E mantém a tudo em movimento palpitante.

Não há maior amor que o Teu

Que sustenta a abóbada celeste

Assegura o brilho das estrelas

Faz milhões de moradas pros seus filhos

Rodopias os gigantes planetas

Os sóis em seus giros

O universo em sua caminhada.

Não há maior amor que o Teu

Que contém tudo no Teu ser palpitante

No Seu brilho incomensurável

Na Sua sabedoria ilimitada

Na Sua Luz.

Não há maior amor que o Teu

Equânime para as constelações

Para os grandes espíritos co-criadores

Para os pequenos espíritos

Não há maior amor que o Teu

Que vela pelos gigantescos planetas do universo

E as formigas vermelhas que cortam instintivamente as folhas.

Nada abandonas

Nada esqueces

A tudo amas.

A chave

A chave

Perdi a chave.

Não sei se na esquina,

Na calçada,

Na rua,

Na estrada.

Quem sabe esqueci?

Em alguma gaveta,

Em cima de uma mesa,

No guarda-roupa,

Na penteadeira.

Distrai-me em algum momento...

Lanceia-a em lugar esmo...

Não me lembro.

Que tormento.

Descuidei-me.

Perdi a chave

Do tempo.

Em que tudo era mais fácil,

Em que a felicidade era infindável,

Em que os amigos não faltavam,

Em que a solidão não me acompanhava,

Em que a falsidade não imperava,

Perdi a chave.

Da alegria juvenil,

Do doce sorriso infantil,

Da aura branca da criança,

Perdi a chave.

Da felicidade simples,

Sem grandes complicações,

Em que existia prazer em olhar as nuvens,

Tornando-se castelos, princesas, anjos e dragões.

Preenchendo de sonhos minha alma e coração.

Notas.

 

Notas.

Tenho uma nota

Ré

Que me leva ao passado

E me faz reviver alegrias.

Tenho uma nota

Mi

Que lembra-me

A necessidade de amor por mim,

Tenho uma nota

Fá

Que me fala de amor

Fala de bondade.

Tenho uma nota

Só

Que lembra minha solidão.

Mas, não fico triste não.

Tenho uma nota

Lá

Que me leva a qualquer lugar

Onde eu queira estar.

Tenho uma nota

Si

Que silencia minha mente

Tranqüiliza o coração.

Tenho uma nota

Dó

Que me traz compaixão.

Levando-me a ajudar aos irmãos

Dentro das minhas condições.

Esgrima.

Desejo falar de coisas alegres.

De felicidade e poesia.

Mas, da minha alma, corroída e enegrecida

Só brotam tristeza e melancolia.

Não, porque não tenha amado.

Ou ame.

Que não tenha tido momentos felizes

Que não sorria com meus amigos.

Que não possa realizar sonhos.

É como uma marca profunda

Que não permite a expansão

Do ser feliz.

Mesmo tendo tudo para ser.

Então, falo das dores da alma.

Das minhas dores

Das dores que conheço nos outros

Das dores que não conheço

E rimo a rima

Como a harmonia da esgrima

Que corta, retalha e destina.

A carne a dor

A alma ao Senhor.

Ser feliz o que será?

 

Ser feliz o que será?

Caminhar descalço cedo na grama?

Vê o Sol nascer?

Acompanhar o pôr do Sol?

Banhar-se na cachoeira?

Ouvir o barulho do mar?

Criar um cão?

Ter muitos amigos?

Viajar bastante?

Duzentos e cinqüenta pares de sapato?

Possuir uma mansão?

Comprar o carro dos sonhos?

Casar?

Ter filhos?

Ser livre de compromissos?

Ser lindo?

Ser famoso?

Ser rico?

Ser feliz o que será?

Pessoas há que tudo isso têm

Mas sofrem como ninguém

Continuo a perguntar!

Ser feliz o que será?