Na primeira facada foi só um não.
Como quem não acredita no que ocorre, como se fosse um sonho, ou melhor, pesadelo. A segunda já foi sentida como realidade. Os seus olhos fitaram os meus e se encheram de lagrimas.
Mas, eu não perdoei. Nunca, nunca perdoaria uma traição. Eu tinha lhe dado tudo e ela me traiu. Na calada da noite, nas suas andanças com suas amigas, nas suas idas a igreja. Mentira, mentira! Era só para se encontrar com seu amante.
Mas, ele não a teria, nunca mais.
A terceira facada foi no ventre e manchou de vermelho sangue todas a suas roupas alva, branca como as fardas dos anjos.
Ela não gritou, só gemeu.
Seus cabelos misturaram-se ao sangue que já empapava os lençóis da cama.
Porém, ela merecia mais. E continue o massacre como um louco que já não sabe o que faz.
Todo o seu corpo tinha perfurações. Seus olhos já não tinham vida, seu coração não batia, sua respiração cessou.
Caí em mim... Ela já não existia. A mulher que eu havia escolhido para ser minha esposa, mãe de meus filhos, para dividir a existência jazia morta em meus braços.
Precisava fazer algo.
Enrolei o corpo em lençóis. Era noite. Lugarejo longe. Amarrei pedras nos seus braços e pernas e atirei o corpo no açude profundo.
A todos disse que ela tinha ido embora. Ninguém desconfiaria. Todos sabiam que ela tinha um amante.
Passaram-se anos. De honra lavada procurava esquecer o fato. A velhice chegou, a morte chegou.
E desse lado descobri que aquela que tirei a vida nunca havia sido infiel aos votos do casamento. Fora meu ciúme, as intrigas, as fofocas que me fizeram perder a cabeça.
Hoje a procuro para pedir perdão. Mas, ela está muito longe de mim. E eu padeço a dor do arrependimento.
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