quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Espera.



Envolta em trapos um farrapo humano segue rua afora.



Todos na rua a conhecem por Amélia.


Todos conhecem sua história.


Dizem que fora uma rica dama.


Bela e fina senhora.


De fidalguia conhecida.


Mas, a desdita da vida não suportara.


Enlouquecera e agora perambula sem destino.


Em completo desatino.


Levava uma vida soberba.


Nada, nada lhe faltava.


Tudo tinha as suas mãos.


Motorista, cozinheira, copeira.


Dama de companhia.


Para lhe atender todo pedido.


Marido rico.


Um belo filho.


Todos os dois muito amados.


Mas, tudo muda.


O mundo dá voltas.


Tudo se transforma.


Um acidente terrível.


Levara da vida seus amores.


Ela entrou em decadência.


Primeiro a depressão.


O fugir do mundo na solidão.


O desespero.


Procurava-os como ainda estivessem vivos.


Gritava seus nomes.


Chamava-os constantemente.


Deu para fugir à noite.


E nas esquinas da cidade.


Esperava o retorno dos seus.


Com o tempo já não aparecia na mansão.


Os parentes advogados e empregados lhes roubaram


Toda a riqueza sumiu então.


Nada disso lhe afetou.


Não lembrava do fausto.


Somente do companheiro e do filho.


Para ela desaparecidos.


Numa noite chuvosa.


Num inverno tristonho.


Caminha silenciosa.


Às vezes para como a procurar algo.


Ou como estivesse a ouvir.


Dizem aqueles que junto a ela.


Segue um senhor e um menino.


Que não a deixam um só momento.


Talvez esperando sem lamentos.


A hora certa.


Que ela se despeça dessa vida.


E os encontre junto a ela.

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