
Nos seus cachos prendia meus dedos.
E os enrolava cada vez mais.
Negras cascatas.
Que vinham até a tua nuca.
Ou se debruçava sobre os verdes olhos mar.
Com o qual olhavas para o horizonte.
Onde barcos de pesca saíam em aventuras.
E tu corrias até as pedras da praia
Até vê-lo se tornarem pequeníssimos pontos nas águas frias.
Voltavas para mim.
Olhava-me.
E eu sabia.
Que um dia irias embora
Num barco qualquer
A qualquer hora.
Meu coração tremia.
E com minhas mãos de menina.
Eu prendia as tuas as minhas.
Crescesses e fostes.
Eu fiquei, na vila, vendo os barcos.
Fosses e voltasses tantas vezes.
Mas, um dia não voltastes com o barco.
Ficasses perdido de amor por outra alma.
Mas, eu não, eu fiquei no porto.
Dias após dia.
Esperando-te.
Esperando-te.
Chamavam-me a moça do porto.
Chamavam-me a mulher do porto.
Chamavam-me a velha do porto.
Até que um dia cansada.
Debrucei-me nos rolos de cordas.
E te vi.
Como eras.
Vieste, voltastes.
Corri a te abraçar.
Nada que passou valia a pena.
Só nosso amor.
Volvo os olhos para a velha do porto.
Está frio.
Ajeito seu chalé.
E tu e eu partimos.