sábado, 5 de junho de 2010

Chuva e desatino.



Chove lá fora.

Chuva fina.

E lava as ruas.

Desertas e frias.

Esquecidas e vazias.

De movimento e vida.

Escorre as águas pelas avenidas.

Pelo cimento áspero das calçadas.

Por cima dos bueiros entupidos.

Molha aos poucos as árvores e a grama.

Limpando a poeira que nelas se encravam.

Em meio à chuva nosso louco.

O louco do bairro.

O louco que não é temido.

O louco manso.

Falando com o invisível.

Gesticulando num longo discurso.

Parando, retornando os passos, fazendo meia volta e indo à frente.

A chuva não lhe molha a alma.

Não lhe renova o pensamento.

Não lhe tira da ilusão, da demência.

E ele se vai.

Pergunto-me quanto de nós somos como ele?

Loucos, presos numa existência sem sentido.

Avariando nossos corpos e almas.

Levando nossa vida em desatino.

Esquecidos do nosso destino.

A perfeição.

Para nós Plano Divino.

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