domingo, 21 de junho de 2009

Minha boca.

Minha boca.


Quando nasci minha boca era grande

Cobria quase todo meu pequeno rosto

Ficava feio e engraçado

Acho, que a minha mãe deu desgosto.

Cresci, cresceu a boca e os dentes.

Grandes como a caverna que os guardavam.

Branco como leite (eram de leite)

E aos poucos caíram de maduro

Feito fruto do pé.

Adoleci (se tem por aí esse termo)

Falava pela boca e cotovelos

Ria de tudo e ria com todos

Uma grande boca risonha

Com dentes de coelho.

Amadureci.

Aprendi a fechar a boca.

Porque falar era errado.

Já não era tão grande minha boca

Faltavam-lhe exercícios e ela murchou.

Envelheci

Foram-se os dentes como flores mortas após primavera.

Minha grande boca novamente abriu

Sem dentes próprios é verdade

Mas, uma linda perereca.

E novamente a língua solta

O riso solto

Já não devia nada a ninguém

A fala saiu mansa e verdadeira

A velhice fez à asneira

De fazer -me dizer minhas verdades.

sábado, 20 de junho de 2009

Vieram.


Vieram.

Eles vieram

Escorados, amparados, sustentados

Frágeis como folhas outonais.

Doentes, dementes, sem mente.

Semente que murchou.

Olhos vidrados, estáticos, sem brilho algum.

Perdidos sabem-se lá donde, quando, em que situação.

Murmuram, choram, gritam, clamam socorro.

Em suas almas medo, dor, terror.

Já não participam da história como viventes

São os que partiram pela metade

E esperam desesperadamente o socorro

Vindo de casas simples

Pessoas simples

Que desejam ajudar

Emprestando o corpo, a fala, a mente, o coração

Para que eles possam dissertar

Sobre tudo que passam

Uns reclamam,

Outros choram,

Alguns se descobrem mortos e vivos,

Desabafam,

Reiteram a vontade de vingança,

Ouvem os ensinamentos do mestre.

Recebem a Luz do Divino.

Ajuda da espiritualidade.

E se vão.

Mais tranqüilos,

Sossegados,

Carregando no coração

Uma esperança:

De serem por Deus abençoado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Oração


Oração

Jejum

Genuflexão

Perdão

Contentamento

Expiação

Negação de si

Encontro

Misticismo

Meditação

Concentração

Reflexão

Caridade

Verdade

Visão

Júbilo

Êxtase

Leitura

Mudança

Atitude

Bondade

Carinho

Alteridade

Tanta coisa

Quando bastava

Amar a tudo

De verdade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ave



Ave

A todos os césares

Ave a todos os tribunos

Ave a todos os senadores

Ave aos cidadãos de Roma

Ave aos párias romanos

Ave aos soldados invencíveis da loba da história

Ave

Assim, o mundo saúda os conquistadores

Os donos de toda a terra

Com suas botas e suas espadas

Suas mulheres vadias

Seus políticos corruptos

Ave, ave, ave

Pilatos, Pôncio

Que lavastes as mãos

Ave Barrábas que não conhecia seu crime

Seu papel na peça da redenção

Ave ao povo que gritou Jesus

E o condenou a cruz

A visão pretérita dos profetas

A pedra rejeitada

Que sustenta a construção de um novo mundo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Plantas e reclamas?

Plantas e reclamas.


Reclamas de tua solidão.

Reclamas de traição.

Reclamas que te esqueceram.

Reclamas que teu telefone não toca.

Reclamas os amigos que sumiram.

Reclamas os filhos que não te visitam.

Reclamas da tua velhice.

Reclamas, reclamas, reclamas...

Só não reclamas da tua tolice

Que plantou por toda vida as sementes

Da falta de amor, de compreensão, de alteridade, de compaixão e amizade.

O que hoje te falta em frutos de felicidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Descompasso.



Descompasso.


Bate um coração descompassado

Um pedaço, pela vida, retalhado.

Um ser amoroso estraçalhado

Pela dor da solidão.

Bate em ritmo errado

Um instrumento sem sintonia, sem passado

Que viveu escondido, acuado.

Pelo medo de amar e não ser amado.

Agora só

Repousa intranqüilo num corpo gélido

Numa cama branca de hospital

Sem outro coração a acompanhá-lo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O céu emudeceu


O céu emudeceu

Encheu-se de pó

E escuridão

Não há sequer um sorriso

Só choro

Gritos de desespero

Corpos queimados

Destruídos

Estupidamente desintegrados

Pó humano

Cinzas de homens expostas ao vento mortal

Crianças que não entendem porque estão sem pele

Mães que não querem pari monstros disformes

Espíritos que não conseguira desabrochar para uma nova vida

Não, não há cantos nos céus

Diante de tanta barbárie

Calaram-se os anjos

E ao barulho do cogumelo radioativo

Frente ao hediondo perpetrado

Até os demônios também emudeceram
.

domingo, 14 de junho de 2009

Certeza tenho.


Certeza tenho.


Existe tanto amor em mim

Certeza tenho.

Contudo escondido estar.

Em profundos abismos da alma

Onde não consigo penetrar.

Vez, algumas, explode como um gêiser

Inundando a alma, o corpo, as mãos

Sou feliz, como nunca o fui então.

Esse amor é Teu

Tu o desses para mim

Com uma única condição para usá-lo

Ele descobrir

Entre as pedras, nos caminhos, nos espinhos

Dividindo o que tenho

Sem às vezes ter nem para mim

E está lá

Escondido, esperando-me, eras e eras

Esse tesouro imensurável

Que me fará uma abençoada

Onde eu estiver

Na lama ou no palácio

Nas ruas ou no catre prostrada

Acompanhada ou sozinha

Serei eternamente feliz

Pois, encontrei Teu amor comigo.

E eu em Ti.

sábado, 13 de junho de 2009

Não acredite em mim

Não acredite em mim

Quando te digo amo

Sussurrando em teu ouvido.

Não acredite em mim

Quando olhos nos teus olhos

E pareço está a ver o Universo.

Não acredite em mim

Quando tento te confortar

De todas as dores do mundo.

Não, não acredite em mim

Quando afirmo que morreria por ti

Sem nenhuma dúvida.

Não, não acredite em mim

Quando juro que te amarei eternamente

Onde quer que esteja.

Não, não acredite em mim.

Quando assevero que mesmo indo

Estarei contigo.

Não, não acredite em mim.

Não é essencialmente necessário que acredites

Imprescindível que eu o faça.



sexta-feira, 12 de junho de 2009

Alzheimer.


É a poeira do tempo

Levantando a solidão, o isolamento construído no tempo.

Espalhando lembranças, amarelas, rotas, estáticas.

Arrastando o que resta da memória.

Pequenos instantes de felicidade que achava inúteis.

Levando os últimos e únicos sorrisos.

Submergindo, escurecendo o rosto dos poucos amigos que restaram.

Apagando as aventuras da mocidade.

Os amores infantis, os beijos roubados, com consentimento implícito.

Tornando esquecível o inesquecível.

A pipa no ar, os banhos de rio, o deslizar nas pedras da cachoeira.

As corridas de pangarés.

A caça as tanajuras.

As mãos de mãe nos meus cabelos.

A voz forte do meu pai a chamar-me.

Meus incontáveis irmãos e irmãs sentados a mesa.

Única hora de silêncio.

É o vento do tempo passado

Que nos presente faz com que esqueça

Até quem sou eu.