quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O enforcado.



Morri.

Morri e não me arrependo

Deixei tudo para trás.

Abandonei a todos.

Tenho certeza não fiz ninguém debulhar-se em lágrimas.

Não “quebrei” nenhum coração.

Não abandonei mulher ou filho, não os tinha.

Os poucos amigos... Perdidos no tempo e na vida

Outros só camaradas de álcool e drogas.

Nada sofreram.

Mesmo meu corpo não sofreu

Pois quase já me existiam as carnes.

Nem mesmo um cão para deitar-se sobre a minha lápide.

E uivar suas saudades existia.

Que lápide? Era indigente.

Assim, por que tanta cobrança?

Desses seres abjetos.

Dessa minha morte desejada, sonhada, querida, almejada.

Se mesmo depois da corda ao pescoço

Do último esgar

Do último suspiro

Encontro-me vivo

Nesse vale de lamentação.


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