Há senhoras nas ruas.
De pele branca e lisa.
Sem uma ruga só.
Cheia de rococó.
Que desfila belos trajes.
De cores indefiníveis.
Feitos para ela só.
Por grande artífice.
Mulheres de porte elegante.
De mãos finas e delicadas.
De gestos todos pensados.
Gesticulo de fadas.
Com guarda-sol pequenino.
Uma finura de ser.
Um bibelô.
Uma boneca.
Um quase não ser.
Nas frívolas rodas sociais.
Falando da próxima moda.
De festas ou bacanais.
Passando pela vida.
Feito sopro primaveril.
Sem deixar marcas.
Sem contribuir.
Sem perceber que a vida não é para ser fútil.
Há mulheres nas ruas.
De roupas simples e rotas.
De mãos grossas e gastas.
Do trabalho que lhe pesa a vida.
De rosto com marcas infinitas.
De olhos cansados e fundos.
De tantas noites mal dormidas.
Mulheres do povo, mulheres da rua.
Mulheres que lutam com bravura.
Pela porção de alimento.
Para saciar a fome dos rebentos.
Que cuidam dos que lhe são caros.
Os pais velhos e cansados.
A tia que nunca casou.
Que não esquece a vizinha.
Triste anciã abandonada.
Pelos filhos esquecida e má tratada.
Existem essas mulheres.
Não são belas.
Parecem que escolheram o pior lado da moeda.
Não passam pela vida.
Vivem.
Aprenderam a ser gente.
Que cuida de outras gentes.
São velas, candeias, luminárias.
Abrindo luz em brutas trevas.
Esperanças dos que esperam.
Um auxilio.
Um pouco de amor.
E no além.
Quando frente a frente encontram-se essas senhoras.
A dama, a senhora se espanta.
A riqueza se transforma em farrapos.
E alma se quebranta.
Enquanto a mulher do povo.
Ainda em trajes simples.
Recebida é com festa.
Por toda dor que aliviou.
Há braços que abraçam.
Lábios que saúdam.
Amigos que a recebem e ajudam.
E sua alma amorosa estende as mãos...
Para dama, a senhora.
E a convida para ir consigo.
Buscar Luz no trabalho redentor.
Na doação de amor.
A todos que necessitem.