
Que amor é esse?
Que não cultiva a paciência,
Que não tolera,
Que não consola,
Que não abraça,
Que não compreende,
Que não aceita erros,
Que não enxerga virtudes,
Que não perdoa,
Que se melindra,
Que se afasta,
Que maldiz,
Que se magoa,
Que não recomeça sempre,
Que estabelece fronteiras,
Que distingue,
Que se chateia,
Que não é pleno,
Que não esquece erros,
Que cobra,
Que machuca,
Que humilha.
Que amor é esse?
Que construímos todos os dias.
Para percebemos em outro
Que não era amor.

Ajude-me.
Ajude-me a falar de amor.
Numa terra onde o ódio banal circula livremente.
Ajude-me a doar amor.
Para aqueles que não o conhecendo o temem.
Ajude-me a propagar o amor.
Entre os que preferem, por ignorância, continuarem surdos aos seus apelos.
Ajude-me a praticar o amor.
Mesmo sendo visto como um tolo.
Ajude-me a plantar amor.
Em terras secas, áridas pelo sofrimento.
Ajude-me a fazer viável o amor.
Num mundo em que impera o mal.
Ajude-me a amar.
Mesmo aqueles que me repudiam, me atacam e me machucam.

Sou
Sou o que não quero ser.
O que não quero ser sou.
Sou o mal que a tudo permeia.
O mal que a tudo permeia sou.
Sou a boca que maldiz.
A boca que maldiz sou.
Sou os olhos da inveja.
O olho da inveja sou.
Sou os pés que espezinham o fraco.
O pé que espezinha o fraco sou.
Sou o que termina os sonhos.
O que termina os sonhos sou.
Sou todo mal que não quero fazer e faço.
O bem que desejo fazer não sou.
Por que sou o que não sou?

Onde estás?
Minhas são tuas pequeninas mãos.
Que brincam com o vento como algo sólido.
Teus olhos inquirem o mundo, todas as coisas, todas as gentes.
E ao fecharem dorme um anjo.
Nos lábios só sorriso ou choro.
Um pequeno bico de birra.
Um grito de espanto e alegria.
Pernas que fraquejam.
Mas, tentam se firmar para chegar ao lugar desejado.
Estendes as mãos, mãos pequeninas que são minhas, na direção dos seus desejos.
E sem dizer uma só palavra tudo consegues.
Tu és a minha alegria, em todos os meus sonhos, te encontro.
Ao acordar te espero.
Quem te levou meu amor?
Quem me roubou a alento?
A felicidade de tuas mãos pequeninas, que eram minhas?
Onde estás?
Bênçãos.
Tantas
Pouco valor dado.
Cabelos que esvoaçam durante a brisa.
Boca que sorrir de alegria.
Sons de risos e gargalhadas.
Mãos que tocam os amados.
Lábios que beijam e adoçam.
Olhos que vêem o Universo.
Braços que acalentam.
Pensamentos que alegram.
Mãos que auxiliam.
Mãos que recebem.
Mãos que detém a violência.
Palavras que constroem.
Olhar que ilumina a vida.
Amor sem condições.
Aceitação completa.
Contentamento.
Bênçãos de um templo sagrado.
O corpo.

Pela Luz.
Durante eras caminhei
Errei e acertei.
Guardei comigo o tesouro que a traça não roí
As conquistas eternas.
Que fincaram raízes profundas em meu ser.
Pela Luz paguei alto preço.
Às vezes uma vida solitária num mosteiro.
Outra entre os doentes e dores.
Caminhante e profeta.
Escorraçado na sua própria terra.
Amaldiçoado pelos que não compreendiam.
Detestado pelos poderosos.
Maltratados pelos néscios.
Amado por poucos.
Pela Luz te busquei
Vida após vida.
Entre os espinhos das estradas.
Descalço em pedras quentes.
Sujo, roto, desfigurado.
Pela Luz a fé levantou-me inúmeras vezes
Das quedas da minha alma.
E hoje te encontro.
Mas, não podes falar.
Não podes me olhar.
Nem tão pouco me tocar a fronte numa bênção.
Neste madeireiro que te prende o corpo humilhado.
Dá-me a maior das lições
O sacrifício pelos amados
Que o consideraram Mestre ou não.
Uma flor.
Recebi uma flor
Pequeno botão ainda fechado
De pétalas macias
Desconhecedora do mundo.
Coloquei-a em um vaso
Com água limpa e açúcar
Adocei esse seu pedaço de vida
Aos pouco abriu
No inicio tímida e frágil
Pouco a pouco esplendorosa
Rica em falsa vida
Com sua cor forte
Seu aroma inebriante
Ficando assim por algum tempo.
Mas, veio o momento
E ela iniciou a morrer
Caindo pétalas
Murchando
Perdendo seu odor
Sua beleza
Até fenecer de todo.
Como todos.

A primeira pedra.
Qual de nós atira a primeira pedra?
Quem não tem suas máculas?
Qual de nós não esconde ao menos um esqueleto no armário?
Quem nunca errou?
Qual de nós não pecou?
Quem sempre teve passos retos?
Qual de nós não saiu sequer uma vez do caminho?
Quem não ficou na escuridão, um instante?
Qual de nós não se revoltou contra o Cosmo?
Quem não maldisse o seu destino?
Qual de nós não achou injusta a vida?
Quem não execrou a sua colheita?
Qual de nós, quem de nós pode atirar a primeira pedra?

Não me abandone meu anjo
Mesmo que eu erre.
Errar é humano.
Não me deixes só nesses caminhos
Quem me indicara a estrada a seguir?
Não se vá pelos meus erros.
Foi, é e serão ainda muitos.
Peço-te paciência
Com minha boca suja
Com minhas mãos fechadas
Com meus pés que não saem do lugar
Com meus olhos não compassivos
Com minha preocupação egoística
Com minha rudeza
Com minha maldade e ignorância.
De ver no outro eu mesmo
Não respeitar nossa irmandade
E cheio de maldade
Fazer o mal em beneficio próprio.
Não se vá meu anjo
Pois, entre as trevas que me encontro
Só a tua Luz guia-me a Deus.

Posso ser feliz.
Sob o véu escuro da noite
Abaixo de bilhões de estrelas
Estão meus olhos a contemplar o pisca-pisca de Deus.
Em meio ao rebentar das marolas
No vai e vem murmurante das ondas
Estou a molhar meus pés que caminham pela areia.
No verde do quintal
Repleto de plantas comestíveis
Agacho-me e apanho verduras que saciam minha fome.
Abro os braços e recebo e dou
Um abraço
Em que amo e gosto.
Sorrio com a alegria que é minha
Com a alegria do outro
Posso ser feliz.
Falo de poesia, música, amor
Explodem sons de bênçãos de minha boca
Canto louvor ao meu Senhor.
Tenho milhares de graças.
Milhares de milagres todos os dias.
Posso ser feliz.
Reconhecendo o que tenho e sou.