
O sol se põe.
A veste negra da noite estende seu lenço sobre o céu.
Aos poucos vai se pontilhando de pequenos brilhos que pulsam.
Como a confirmar sua presença no trabalho do universo.
As lamparinas nos postes são acessas.
As senhoras apressam os passos para sua residência.
Já não há crianças a rua.
Ouve-se o barulho das famílias pelas janelas.
Nas salas de jantar.
São seis horas.
Os sons humanos se diluem.
Diminuem.
E cessam.
A noite escurece seu véu.
E as estrelas brilham com mais fulgor.
Algumas lamparinas apagam.
E eu caminho pelas ruas desertas.
O peito oprimido pela dor.
A tosse seca constante.
Dirijo-me ao cais.
Começo a ouvir as risadas e a música.
As vozes femininas em burburinho.
O cheiro do amor e do pecado.
O barulho de uma briga.
Não ligo.
Sou quase invisível.
Sem dinheiro.
Tísico.
E a porta da morte.
Já não represento lucro.
Para as damas da noite e seus cafetões.
Fico por ali.
Um antigo companheiro compadecido.
Oferta-me uma pinga.
Que desce rasgando e queimando minha garganta.
Mas, entorpece um pouco minha dor.
Sento ao meio fio.
Encostado a um poste.
Olho para céu.
Parece que de repente as estrelas se aproximam.
Cada vez mais a luz negra da noite se adensam.
Esvaio-me.
Ouço alguns gritos.
E nada mais.
As estrelas se aproximam cada vez mais.
E são luzes pertos a mim.
Ouço canção que não posso descrever.
Alguém me toca.
Levanta-me.
Conduz-me.
Abre-se aos meus olhos verde prado.
O odor de flores.
Uma brisa suave.
O céu já não é o céu.
Volto meus olhos para trás.
Estou lá caído ao meio fio.
Em volta uma multidão.
De prostitutas, bêbados, ladrões.
Alguém acendeu uma vela.
Minha última luz na Terra.
Mas, a minha frente Luz maior me espera.