quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Senhora

Resultado de imagem para pinturas de mulheres antigas


No final sempre me parecem assim
Esquecidas de si.
Emaranhadas em sonhos esvaídos e vazios
Perdidas em entrelaçado velhos fios.

Os olhos ao chão sem sonhos,
Só lembranças cinza tudo bisonho,
Em tons enfadonhos.

Morta à criança que já foi um dia
Já não é mais a menina arredia
Da rua a mais bela guria.
Da turma agitada, alegre, a guia.

Fechou o lábio em silêncio respeitoso
Ao cônjuge, ao lar, a tudo que um dia lhe foi desgostoso.
Tornou-se senhora fulana de tal. Perdeu o nome espantoso!

Empurrou-lhe a vida dessa época para uma morte lenta
Tortura diária de ser rainha do lar.
Impossibilidade de ser livre, de ir ao teatro ou ao bar.
Sem esperança de nada, nada a acalentar.

Findou aos poucos como o Sol no entardecer morno.
Sem grande brilho ou show.
Quase, quase  ninguém notou.

Mallika Fittipaldi. Autoria.




sábado, 17 de fevereiro de 2018

Tola.



Imagem relacionada

Tento verdadeiramente esboçar a minha linha, meus passos.
Penso, contudo, que erro quase sempre meus traços.
Por enquanto, ainda culpo o compasso.
Esse corpo que acham meio torto, meio feio e desajeitado.

Sonho possuir a beleza de Vênus, os lábios de Cleópatra, os cabelos de Freyja.
Os encantos das ninfas, a leveza das sílfides, o som das nereidas.
Enfim, a beleza perfeita.

Ter minhas decisões inquestionáveis,
As convicções inabaláveis,
As crenças indestrutíveis,
As palavras irredutíveis.

Cada pensamento gerando perfeita criatura,
Cada sentimento para com o outro puro amor e candura,
Cada ato corporal miríade de concepção transcendental.

Retorno ao aqui e agora com todos os meus livros de história
Onde Hitler usou a palavra e destruiu milhares,
Onde guias espirituais pregam Deus Amor de forma destrutiva e contraditória,
E os homens unem-se para criarem dores, sofrimentos, pesares.

Agradeço ao corpo torto e feio não dado a realizar grandes feitos.
A mente lerda e vagarosa para a resposta fria, amarga e dura.
E o coração mole para todo e qualquer tipo de criatura.

Deixe-me ser tola ao olhar do mundo.
Pois, durante á noite não são meus sonhos feios e imundos.
Descansa minha alma sobre minhas tolices.
Adoçando-se no mel que brota daquilo que muitos chamam de idiotice.

Mallika Fittipaldi. Autoria.





quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Retorno.

Resultado de imagem para socorrido no umbral krdecismo


Sei que, um dia qualquer “parto”, desse rincão, mas, não em pedaços.
Irei inteira, solteira, nua, completa, frágil como uma anciã, forte como aço.
Vou sem medo, assim que deixar as velhas vestes, que cobriram tantas vergonhas.
Ciente de que tudo o que me vestirá serão os meus desmandes e desonras.

Possivelmente o meu brilho será opaco e minha consciência disco arranhado
Assim é, aprendi a conviver (comigo)  com meu carrasco.
Não terei vergonha de tantos erros.

Já cometi desacertos por tantas vidas.
Fica só novamente a saudade do que deixo,
Tudo que me dava alegria,
Os amores dessa antiga vida.

Reiniciarei de novo a caminhada, sangrenta, suada.
E pela Divina Graça poderei observar comparar
Que há menos espinhos a me machucar, a menos almas a me acusar.
Procurarei o que levou a essa mudança com pressa e ousadia.

Quando então, com certeza lá no fim da estrada encontrarei mãos amigas estendidas.
Mãos dos que alimentei com sobras, a quem doei para esnobação, por bondade simulada.
Verdadeiros anjos a amparar-me a chegada sofrida, acolher sem perguntar, me amar sem cobrar.

Mallika Fittipaldi. Autoria.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Minha Olinda em Carnaval.


O som do carnaval de Olinda atravessa minha janela
La fora pierrôs, colombinas, bailarinas azuis, vermelhas e amarelas,
Pulam, gritam, cantam, dançam e se embebedam.
Acham-se, perdem - se, maculam-se, obsedam-se.

O homem da meia noite saiu ontem
Saudando os deuses, os mortos e os mortais.
Com seus trajes já não tão infernais.

No sobe e desce das ladeiras
Encontram-se as doidivanas, as lavadeiras, as patricinhas e as fofoqueiras.
Todas iguais naquela onda de bobagens e asneiras.
Buscando a felicidade mundana, tão fugaz, tão passageira.

Mas, o riso alegre dos foliões.
Os fogos que explodem em artificios
Chamam as almas sofridas a esquecerem de todos os sacrifícios.

O chão treme com as batidas dos pés
Com os passos do frevo
Com o batuque do tambor
Com o calor do sexo amor.

Apenas alguns dias dessa alegria insana a que cedo finda
Então, todas, todas as fantasias serão guardadas...
E as lembranças como pó de sonhos apagadas.

Mallika Fittipaldi. Autoria.