segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Doador.


Quem sustenta?
As nuvens no céu,
Os ventos que por lá assobiam.

Quem retém?
A água do mar.

Quem orienta?
O caminhar dos rios.

Quem eleva?
A terra a condição de cordilheiras,
Montanhas,
Montes.

Quem a rebaixa?
Até planícies,
Depressões,
Abismos.

Que força promove?
O canto das cigarras,
O zumbido das abelhas,
O pio dos pássaros,
O grasnar da gralha,
O rasgo da coruja.

Quem alimenta?
A semente morta para que vivifique.
E torne-se um carvalho milenar.

Quem doa vida a todos os seres?
Animais da terra, água e ar.

Quem enfim move?
O mais lindo, preciso, infindável.
Balé dos astros no Universo.


Quem é o Doador da Vida?

domingo, 16 de agosto de 2015

A Senhora.


File:Louise De Hem - 1888 - An old woman.jpg

Lousise De Hem. 
A senhora.
Um pouco escuro. Como os seus olhos e seu olhar.
Alguma coisa distingue mesmo sem precisar contemplar.
Os vasos antigos, a chaleira amassada todos sempre no mesmo lugar.
Assim não os perde de vista...  Se assim posso expressar.
Cada passo é um arrasto do chinelo velho, marcado, macio de uso.
No chão riscado pelo tempo e pelas suas ações.
São passos lentos, calculados para não ir ao chão.
As janelas e portas fechadas medo do ladrão.
A televisão apagada não chama mais a atenção
As novelas, para ela, depravadas os jornais sangue aos borbotões.
Que não interessam que não ensinam, só aumenta o medo da solidão.
Segue a vida entre o quarto, a cozinha, o banheiro e a sala.
Um universo repleto de baças lembranças e pó.
São os biscuit e pratos na cristaleira,
Não sabe por onde andam mais os copos, a poncheira e todos os cristais.
Quem os levou? Que fim tiveram? Não importa...
O tapete roído pelo tempo sob a mesa pesada
De madeira e mármore que há séculos não tem suas cadeiras puxadas, remexidas, usadas.
Muitas fotos nas paredes amareladas, tanto as fotos como a tinta desgastada.
Há pessoas que reconhece. Outras se perderam na lembrança em sua memoria que tanto falha.
Belo menino esse a sorrir para ela. Mas, quem será?
Continua a jornada em busca de um chá.
Porque hoje estar tanto a pensar.
Será que vem alguém a visitar?
Precisa se arrumar.
Mas, quem viria?
Filhos, netos, amigos?
Não se lembra de nenhum.
Vamos ao chá. A chaleira do fogo precisa retirar.
Que cansaço em seus pequenos passos
Precisa se sentar, descansar, dormir um pouco.
Um pouco...
O cheiro do gás a se espalhar
Escapando pelas frestas das portas e janelas
Os vizinhos a gritarem abra a porta!
O filho avisado, apressado, angustiado com a próxima reunião empresarial.
Esbraveja: Mãe, mãe abre a porta. Estou atrasado mãe!
Silencio.
A velha senhora repousa dentro da sua camisola,
Sem saber a hora, sem sofrer,
Somente o sono eterno
O eterno desfalecer.

O Leão e a Serpente.



Ouço teu rugido jovem leão
Ouves o sibilar da velha serpente?
Tu podes me rasgar o ventre
Eu consigo te envenenar o corpo e a mente.
Somos fortes
E diferentes.
Ruges e mostra-me tuas presas e dentes
Ergo a cabeça balanço guizos.
É quando me alço que tenho siso.
Há espaço e tempo
Para o leão e para a serpente.
Serpenteio, cobrejo e sigo.
Abandono-te.
Deixo-te a sorte.
Por ti construída.
Prefiro ser a minha própria mestra.
E não o fel, amargo bílis venenoso.
Que por incrível que pareça tu destila.

sábado, 15 de agosto de 2015

Compreendo agora.


Compreendo agora.
Toda dor por mim sentida.
Centenas de noite mal dormidas.
Os vexames.
As humilhações.
A pobreza de espirito.
A pequena capacidade pratica.
Os olhos sempre úmidos.
O canto da boca riscado para baixo.
A alma encurralada pelas indagações não respondidas.
O sentimento de tão longa data de estar só.
A velhice corroendo meus ossos.
Os falsos amigos que me esqueceram.
Os amores que me abandonaram.
E mesmo àqueles que eu amava que desencarnaram.
Agora compreendo...
Peço meu perdão
Pela tola que fui em tantas horas.
Pois, neste momento... Agora.
Em que estou de malas prontas
Para finalmente ir embora.
Percebo que dei muita atenção
A coisa de pouca monta.
Perdão.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Retorno do Peregrino

Cansado das casas astrais.
Dos mapas de tarô.
Do que dizem as folhas de chá.
Das cartas ciganas.
Atormentado pela morte de Deus
O bom velhinho
Em que tanto confiava
E que se tornou um código de Lei.
Apavorado com os anjos das guardas
Transformados em seres de imensa inveja dos humanos.
Atormentando pelos demônios naturais
Que habitam cada homem.
Assustado com os elementais do meu jardim
Que se tornaram ogros repelentes,
Diabretes católicos,
Danação.
Guardado com cuidado o chapelão do mago
A bola de cristal
O cajado
Feito a barba.
Calado para os encantos
Pelo medo da fogueira
Da perseguição
Dos que se acham cristãos.
Volto cansado ao colo dos deuses
Que tanto se parecem comigo
Com seus erros,
Dores,
Tristezas,
Decepções.
Em busca de um lugar

Onde ainda possa ser humano.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Ah! Afrânio.


Ah! Afrânio.

Neste céu azul que meu olhar estonteia
Que me faz perder a certeza do finito
Esquecendo-me de tudo até de que existo.
Encontro a forma perfeita
Fugido possivelmente da história do antigo Egito
Do colo de Bastet sua amante.
Nessa formosura de ciranda de nuvens
Do vento que lá em cima serpenteia com certeza
Criando formas de rara beleza.
Vejo-te
É paixão à primeira vista
E do céu limpo azul brilhante
Do azul imaculado inigualável
Esqueço
Pois me perdi nos teus olhos verdes

Ah! Afrânio.

sábado, 1 de agosto de 2015

Sobre a dor.

Edward Hopper. 

Sobre a dor.

Bênçãos expedidas, bênçãos não perdidas.

Aos que sofrem o alivio, o fim ou a atenuação da dor são presentes

de Deus Pai aos filhos que lhes imploraram uma moratória diante 

de atrozes sofrimentos.

Nem todos serão atendidos.

Nem todos beneficiados se os seus desejos forem levados a cabo.

Há o tempo certo para tudo e a fruta retirada com antecedência da 

árvore se torna o fruto amargo. Como a dor extirpada antes do 

aprendizado poderá ser o vetor de novas fontes de aflição.

Autoria extrafísica desconhecida.

Psicografia Mallika.


15 de 06 2015.