sábado, 29 de dezembro de 2012

A árvore.



Enterrei profundamente minhas raízes na terra.

Escavei o mais fundo que pude.

Enrosquei-me nas pedras duras e frias.

Atravessei camadas e camadas de terras frias, úmidas, fofas.

Cheguei ao barro e atravessei-o.

Fui fundo.

E enquanto me enroscava cada vez mais na Mãe que me nutria.

Cresci em beleza e força.

Meu troco cheio de nós.

Cheio de rugas grossas e negras.

Meus galhos vivos, viçosos.

Minhas folhas fortes e saudáveis.

Cresci mais que todas as árvores.

Estava ali plena e segura.

Vendo passar o tempo.

Passar as nuvens.

Passar as estações.

Nascerem, crescerem e morrerem os homens.

Mesmo aquele que me plantou.

Liberei sementes.

Fui moradia para pássaros, besouros, formigas, lagartas, borboletas e lagartixas.

As crianças subiam em meu tronco.

Não temiam ficarem dependuradas nos meus galhos.

Eles não quebravam facilmente.

Eu era imponente.

Entre minhas irmãs a mais orgulhosa.

Nada dizia. Mas, meu porte demonstrava o que sentia.

Mas, algo aconteceu.

Minhas raízes atingiram veio d’água.

Que se infiltrou numa quantidade que não podia consumir.

E elas foram apodrecendo, tornando-se frágeis, mortas.

E como uma doença infernal se espalhou por todas as minhas pernas.

E o meu tronco foi descascado, minhas folhas caindo. Meus galhos enfraquecendo.

As crianças já temiam subir em mim.

E fui abandonada pelos moradores.

Só restaram os cupins.

Que me devoravam os últimos resquícios de vida.

Finalmente tombei em dia de tempestade.

Não servi nem para lenha.

Esquecida fiquei por anos e anos.

Apodreci voltei a terra.

E para meu encanto.

Reiniciei a lançar raízes.

A viver de novo.

Como se a natureza desse a cada ser sempre uma nova chance.

De vida e vida em abundância.

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