quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tentei ser feliz.


Tentei ser feliz

Fiz de tudo para tudo ter.

Lutei muito.

Pois, de onde saí.

Pouca chance havia de crescer.

Suei camisas.

Furei sapatos de tanto caminhar.

Empregos no mínimo dois.

Escola à noite.

Estudos a madrugada.

Fui crescendo.

Materialmente crescendo.

Tendo mais que o necessário.

As chances apareceram.

E me agarrei a elas com toda força.

Como uma sanguessuga.

Anos passaram enriqueci.

Mansão, carros importados.

Viagens ao Velho Mundo.

Grandes banquetes.

Grandes negócios.

Grandes conhecimentos na política.

Poder,

Dinheiro,

Fama.

Tudo o que desejei.

Quando ainda morava em bairro pobre.

E quase nada tinha.

Eu venci!

Venci a pobreza, a miséria.

Venci o mundo e estou entre os mais fortes.

Hoje tenho, à noite para onde voltar.

Uma casa enorme e luxuosa.

Uma cama macia e lençóis de cetim.

Mesa farta.

Quem me servir.

Nada me falta.

Só que entre os lençóis lisos.

Lembro dos amigos que não mais tenho.

Do amor pobre que não sei onde anda.

Da alegria de quando se ganhava um pouco mais.

Da família que afastei por medo de tirarem proveitos.

Dos filhos que não tive.

Tenho tudo.

Isolado no mundo interior.

Sou como planta sem raiz.

Folha ao vento.

Sem destino certo.

Solitário.

Sem fé.

Sem crença em Deus.

Um comentário:

Nyce Pinto. disse...

Olá Malika, que bela reflexão! Tantas vezes acontece isso...as pessoas de perdem de si próprias e não conseguem encontrar o caminho de volta. Abraço!