sábado, 30 de abril de 2011

O tísico

O sol se põe.

A veste negra da noite estende seu lenço sobre o céu.

Aos poucos vai se pontilhando de pequenos brilhos que pulsam.

Como a confirmar sua presença no trabalho do universo.

As lamparinas nos postes são acessas.

As senhoras apressam os passos para sua residência.

Já não há crianças a rua.

Ouve-se o barulho das famílias pelas janelas.

Nas salas de jantar.

São seis horas.

Os sons humanos se diluem.

Diminuem.

E cessam.

A noite escurece seu véu.

E as estrelas brilham com mais fulgor.

Algumas lamparinas apagam.

E eu caminho pelas ruas desertas.

O peito oprimido pela dor.

A tosse seca constante.

Dirijo-me ao cais.

Começo a ouvir as risadas e a música.

As vozes femininas em burburinho.

O cheiro do amor e do pecado.

O barulho de uma briga.

Não ligo.

Sou quase invisível.

Sem dinheiro.

Tísico.

E a porta da morte.

Já não represento lucro.

Para as damas da noite e seus cafetões.

Fico por ali.

Um antigo companheiro compadecido.

Oferta-me uma pinga.

Que desce rasgando e queimando minha garganta.

Mas, entorpece um pouco minha dor.

Sento ao meio fio.

Encostado a um poste.

Olho para céu.

Parece que de repente as estrelas se aproximam.

Cada vez mais a luz negra da noite se adensam.

Esvaio-me.

Ouço alguns gritos.

E nada mais.

As estrelas se aproximam cada vez mais.

E são luzes pertos a mim.

Ouço canção que não posso descrever.

Alguém me toca.

Levanta-me.

Conduz-me.

Abre-se aos meus olhos verde prado.

O odor de flores.

Uma brisa suave.

O céu já não é o céu.

Volto meus olhos para trás.

Estou lá caído ao meio fio.

Em volta uma multidão.

De prostitutas, bêbados, ladrões.

Alguém acendeu uma vela.

Minha última luz na Terra.

Mas, a minha frente Luz maior me espera.
























































































































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