segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Monstro.

Que monstro é esse que me oprime.



Que atormenta os meus pensamentos.



Que me dilacera os julgamentos.



Que me julga sem pudores.



E me lança ao rosto horrores.



Que não perdoa.



Não esquece.



Não tem piedade.



Só me entristece.



Que monstro é esse que me agita as noites.



Quando a cabeça coloco ao travesseiro.



E ele chega de manso.



E se coloca sentado a minha cama.



Sinto seu cheiro.



E meu estômago revira.



Por que fedes tanto...



Por que não te vais para sempre?



Que monstro é esse que me lembra:



De todos os meus erros.



De toda a minha ignorância.



De toda a minha maldade.



De toda minha displicência.



Da falta de caridade.



Das minhas vida regressas.



Do sangue derramado em causa própria.



Da dor e humilhação às mulheres.



Da subjugação dos homens.



Da escravidão das crianças.



Que monstro é esse?



Escuro como breu.



Vazio como o nada.



Doloroso como ácido.



Que me faz ter vergonha de quem sou.



Oh! Deus é minha consciência!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Velório.

Mistério nesse corpo frio.



Não há mais calor.



Para onde ele foi?



Que saiu dele para transformá-lo numa pedra de gelo?



Onde está o movimento?



A forma de sacudir os cabelos.



O piscar dos olhos.



Olhos de céu.



Fechados para sempre.



Seu sorriso morto.



Seus dentes cerrados.



Seu corpo rijo.



Que mistério e esse?



Que leva a vida e o movimento.



E deixa o vazio e o lamento.



A solidão e o desespero.



Não há mais razão de chamar seu nome.



E suas coisas serão doadas.



Tudo que amava abandonado.



Todos seus amigos deixados.



Seus amores esquecidos.



Seus livros empoeirados.



A areia do tempo encobrira teu corpo.



E tuas lembranças.



O que de ti não esquecerem.



Serão também engolidos pelo tempo.



E em outros tempos,



E em outros lugares,



Com outros nomes,



Em outros corpos,



Nos encontraremos.



Em nova vida.



Em nova chance.

Faxina.

Faxina.



Hoje decididamente vou procurar minha alegria.



Comecei logo cedo olhando debaixo da cama.



Mas, a dita cuja não estava.



Sai catando atrás das portas, de todas as portas.



Não a encontrei.



Busquei em todas as gavetas.



Encontrei velhas fotos.



Cartas antigas.



Poemas esquecidos.



Desenhos apagados.



Mas, nada da alegria.



Corri os livros um a um.



Quem sabe poderia ter se escondido no meio deles.



Triste esperança.



Bati os tapetes.



Quem sabe estava no meio da poeira?



Infelizmente não.



Fui até o paneleiro.



Panela por panela remexida.



Que nada!



Tirei todas as cadeiras do lugar.



Todos os móveis.



E não encontrei ainda.



Cansei.



Sentei.



E ri.



Relembrando o que achei.



A bagunça que fiz.



O trabalho que teria para por tudo no lugar, talvez melhor.



E depois de tudo isso.



Resolvi fazer a mesma coisa com minha vida.



Procurar minha felicidade.



Em todos os lugares.



Expurgando todos os empecilhos.



Retirando toda poeira do meu coração.



Que em forma de mágoas e tristeza impede-me de ser feliz.

Encontrada.


CriDesPar - Movimento Nacional em Defesa


Da Criança Desaparecida do Paraná

Nossa Luta... Continua!"

Arlete - Mãe do Guilherme
ENCONTRADA 21/02/2011
ALANA JASMINE P. DE O. TÁVORA








quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Doação.




Há muito para doar.

Um bom dia ao chegar.

Um sorriso.

Um meigo olhar.

Um conselho salutar.

Um ombro pra se chorar.

Ouvidos para escutar.

Mãos para acariciar.

Braços para abraçar.

Pés para caminhar junto.

A que se tornar amigo.

Dos que estão em solidão.

É forçar a barra um pouquinho.

Estender a mão.

É orar com fé na petição.

Pedindo ajuda pro irmão.

Que perdido nessa vida.

Em meio a provações.

Encontre um local.

Onde descanse o corpo.

E repouse o coração.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Honra lavada (depoimento de um morto).


Na primeira facada foi só um não.


Como quem não acredita no que ocorre, como se fosse um sonho, ou melhor, pesadelo. A segunda já foi sentida como realidade. Os seus olhos fitaram os meus e se encheram de lagrimas.


Mas, eu não perdoei. Nunca, nunca perdoaria uma traição. Eu tinha lhe dado tudo e ela me traiu. Na calada da noite, nas suas andanças com suas amigas, nas suas idas a igreja. Mentira, mentira! Era só para se encontrar com seu amante.


Mas, ele não a teria, nunca mais.


A terceira facada foi no ventre e manchou de vermelho sangue todas a suas roupas alva, branca como as fardas dos anjos.


Ela não gritou, só gemeu.


Seus cabelos misturaram-se ao sangue que já empapava os lençóis da cama.


Porém, ela merecia mais. E continue o massacre como um louco que já não sabe o que faz.


Todo o seu corpo tinha perfurações. Seus olhos já não tinham vida, seu coração não batia, sua respiração cessou.


Caí em mim... Ela já não existia. A mulher que eu havia escolhido para ser minha esposa, mãe de meus filhos, para dividir a existência jazia morta em meus braços.






Precisava fazer algo.


Enrolei o corpo em lençóis. Era noite. Lugarejo longe. Amarrei pedras nos seus braços e pernas e atirei o corpo no açude profundo.






A todos disse que ela tinha ido embora. Ninguém desconfiaria. Todos sabiam que ela tinha um amante.






Passaram-se anos. De honra lavada procurava esquecer o fato. A velhice chegou, a morte chegou.


E desse lado descobri que aquela que tirei a vida nunca havia sido infiel aos votos do casamento. Fora meu ciúme, as intrigas, as fofocas que me fizeram perder a cabeça.


Hoje a procuro para pedir perdão. Mas, ela está muito longe de mim. E eu padeço a dor do arrependimento.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Último ato.

Último ato.



Não, não termine esse ato.

Que te trará tanta dor.

Olha como te amo.

Vê quão é infinito esse amor.

Não te criei pro erro.

Para o medo ou rancor.

Para estancar de pânico.

Ser depressivo ou depredador.

Não, não termine esse ato.

Que gerará a loucura da tua loucura.

És único, filho meu.

Amo-te com as profundidades abissais dos oceanos.

E o espaço infinito do universo.

Não me sentes?

Estou contigo em todos os instantes.

Mesmo que não percebas.

Não te lances ao vale.

Ao vale da dor.

Do ranger dos dentes.

Dos dementados.

Por terem tirado a própria vida.

Não, não termine esse ato.

Confias, espera mais um pouco.

Tua provação passará.

E assim, como a tempestade cessar.

Cessará tuas dores.

E virás para meus braços.

Meus braços filho.

Estanca teu ato...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Em qualquer lugar.

A magia dos velhos tempos impregna o ar.



Sob a Lua imensa flutuando no céu segura por mãos invisíveis.



Grandes espíritos, antigos deuses, velam o Universo.



Cada estrela trás consigo seu Senhor.



Comandante dos planetas que giram ao seu redor.



Como um rosário em que todas as contas são unidas.



Funciona em perfeição eterna o girar, a dança universal dos corpos celeste.



Céleres anjos, mensageiros, cruzam o espaço escuro e silencioso.



Enquanto algumas pequenas criaturas adivinham-lhe a existência.



Nos mundos primitivos a humanidade, diferente da nossa, olha extasiada

Aquele manto de olhos que a ilumina na escuridão noturna.



Mas, que também a espreita.



Como mil olhos dos grandes espíritos que moram além do além.



Em orbes sutis, outros olhos, também se encantam com a magia dos céus.



Conhecedores dos seus mecanismos.



Sabem com certeza da precisão necessária para o seu existir.



E nos seus corações e alma agradecem ao que Criou e Cria a vida.



E assim em todo o universo.



Independente do conhecimento ou da ignorância.



Todos os seres reconhecem... Há algo muito superior a eles.



O que nós chamamos Deus.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Aos teus pés

Vou até ti Mestre.

Levo perfume para teus cabelos.

E balsamo para os teus pés.

Permita-me Mestre aproxima-me.

Sem sequer dizer uma só palavra.

Sem sequer olhar nos teus olhos.

Deixar meu Senhor perfuma tua cabeça.

E tocar tua aureola de santidade.

Mesmo sem vê-la.

Que possa depois deposita aos teus pés a bacia e o balsamo.

Para descanso dos teus pés.

Que tanto andou proporcionado ajuda.

A todos que te pediram, a todos que estavam preparados para receber.

Que ajoelhada a tua frente eu saiba que te servi.

Nem que por um pouco.

A alivia teu fardo tão pesado.

Aos teus pés tão cansados.

Senhor.

Irmão mais velho.

Irmão.

 
Posso sorrir te vendo assim?

 
Em triste lamentação, tu que és meu irmão.

 
Como abrir largo sorriso se te vejo tão sentido.

 
A vida não te foi leve.

 

Tua cabeça breve esbranquiçou.

 
Tua face se enrugou.
Teu sorriso se apagou.

 
Teu corpo se curvou com o tempo.

 
Teus passos são arrastados.


Teus joelhos não dobram.

 
Teus olhos são apagados.

 
Onde perdesses o brilho da vida.

 
O riso, a piada, a brincadeira.

 

Onde foi tua pressa.


Tua vontade de viver.


Teu corpo já não obedece teu pensar.

 
E vives lento a se arrastar.

 

Vejo-te a janela todas as tardes.

 
A olhar o que já não existe.

 
Parece perdido num tempo distante.

 
Que desapareceu em antigos calendários.

 
Não há mais o que te interesse.

 
Tua mente já dementou.

 
E não sei como chegar a ti.

 
Cuido-te como criança.

 
E minha esperança.

 
E que chegada há tua hora.

 
Determinada por Deus.

 
Vais sem demora.

 
Sem sofrer mais que sofreu.

 
E estarei ao teu lado calado.

 
Fecharei teus olhos irmão amado.

 

Findará para ti esse mundo.

 
E abrirás novas portas.

 
Quando saíres do sonho.

 

E entrares na verdadeira vida.
 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Finalidade da morte.

Quem sabe da morte o inicio.



De vida nova que vem.



Em cascata branca e brilhante.



Como a cada um convém.



Quem sabe a morte nova vida.



Que se inicia com o fechar dos olhos.



Para o antigo existir.



Facilitando a nossa ida.



Para novos mundos e idéias.



Quem sabe a morte nova sorte.



De quem trouxe da antiga vida.



Só azar.



E tristeza no olhar.



Esgar de fome.



Coração de dor.



Quem sabe a morte um descanso.



Merecido ou não.



A cada um.



Presente de Deus para filhos moribundos.



Crentes, descrentes e vagabundos.



Quem sabe a morte novo caminho.



Nova trilha a ser seguida.



Para que possamos.



De vida em vida.



Ser hoje melhor que ontem.



Aprender o que não deu tempo.



Conhecer o que não pôde.



Desenvolver grandes poderes:



Humildade.



Sabedoria.



Caridade.



E amor.