segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Partiu.


Partiu uma mãe Terra para o céu.
Não sei como será o céu que ela criou para si.

 
Pois, era o tipo de pessoa que não se prendia a costumes impostos, a tradições as quais não via sentido.

Era especial. Via o futuro, predizia, sonhava, se importava...

Tinha a voz de trovão, os olhos de águia, os movimentos de uma mãe d’água, um encantamento.

Quem a via não a esquecia jamais. Ela era imponente e forte. Não, não era uma bruxa, uma wicca, uma médium ou outra qualquer definição que lhe possa dar era tudo isso e muito mais.


Era amada pelos amigos. Era só como o eremita. Iluminada como a estrela do tarô, forte como a imperatriz, transmutadora como o mago, curiosa como louco, equilibrada como a temperança e realizadora como mundo.

 
Viveu de frente para o mar, no turbilhão da vida.

 
Não me despedi dela.


Não tinha tanta intimidade para fazê-lo. Tive medo de incomodar. De não ser bem recebida pela parentela. Eu uma quase estranha.


Mas, pensava nela sempre. Orava sempre. E todos os dias quando passava em frente em sua casa elevava nem que fosse uma pequena oração pela sua melhora.


Foi-se nossa irmã de mistério, do oculto. Uma daquelas mulheres que não tem medo de levantar o véu de Isis. E caminha entre os dois mundos.


Espero que ela continue ainda seu sono dos justos e quando acordar esteja rodeado pelos que ama. Que a Luz que ela plantou em si e pelos caminhos que iluminou para os outros fique em paz.


Até logo Irma.


domingo, 28 de novembro de 2010

Processo de ir.

Frente a tanta dor.

A tanta miséria.

A fúria da não aceitação.

Aos tratos com a divindade.

Aos arrependimentos.

A luta cansativa contra a moléstia.

As lágrimas noturnas enquanto todos dormem.

A dilacerante certeza da partida.

O medo do desconhecido.

A solidão pesada e silenciosa.

O fingimento de quem acredita na cura.

O abraço que sabe ser o último aqui.

O beijo de despedida.

O riso falso de quem crê na vitória.

Os tratamentos cansativos e dolorosos.

As máquinas enfiadas no corpo.

Mãos estranhas a tocarem na intimidade.

A opressão do coração desesperançado.

A saudade de deixar quem ama.

O apego ao que criou.

O murchar das rosas que tratava com tanto cuidado.

Depois de tanta luta.

A resignação.

De que a roda da vida é também a roda da morte.

E que uma roda, roda a outra roda.

E finalmente a paz no olhar.

Apesar de tudo.

E quando a Lua saí e se espelha na poça d’água.

Com seus mistérios de luz sem luz.

Um anjo entra em teu quarto.

Sorrir.

Toma-te pela cintura.

E leva tua alma.

E nos deixa sem ti.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sem paixão.


 Lucian Freud, Rapariga nua a dormir, 1968; Óleo sobre tela;




Pode haver paixão? Sofreguidão? Excitação?
Quando os cabelos de negra graúna
Transformaram em brancos flocos de neves?
Os belos olhos brilhantes, úmidos, vivos
Tornaram-se opacos pela catarata?
A pele de pêssego do rosto
Enrugou qual maracujá maduro?
O pescoço ereto, altivo, esquio
Trás as listras dos sim e não dados na vida?
Os seios que apontavam
Hoje descansam sobre o abdômen?
O ventre liso de bailarina
Foi Arredonda, esticado, ressecado pelas gestações?
Os membros firmes, as pernas roliças
Trazem as juntas deformadas pelo reumatismo?
Não te engana coração
Teu espírito é jovem
Teu desejo existente
Mas, teu corpo te impede
Dentro da visão desse mundo inconsciente
De apaixonar-se novamente.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Desejo para quem partiu.

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Esteja livre tua alma nas mãos abertas de Deus.

Reconhecendo o mistério da continuação da vida.

O eterno viver em êxtase e prazer.
Que te cresçam as asas de anjos.

E voeje entre as órbitas dos orbes.

E conheça suas luas.

Brinques com as estrelas.
Reviva o encanto do canto divino e celeste.

E assista ao por da Terra.

Aí do Universo.
Que teu corpo rejuvenescido esteja vicejante.

E tua voz soe como sempre forte e trovejante.

Junto aos anjos que estarão contigo.

Eternamente.
Não esquecerás jamais a nós.

Que deixou por aqui um tempo.

Um pequeno espaço ínfimo na eternidade.
Teus filhos e netos amados.

Terão sempre teus pensamentos ao lado.

Impelindo-os a ir em frente, ir reto, ir verdadeiramente a Deus.

Através de todas as ações corretas que ensinastes.
Já não existe dor.

Já não existe medo.

Já não existe solidão.
Só a certeza da continuação.

Da vida eterna em harmonia.

Da alegria de quem tem hoje a certeza.

Da união da alma com seu Senhor.

Preciso de tempo.




Preciso de mais tempo.

Para por as coisas em dia.

Para arrumar minhas gavetas.

Meus documentos.

Minhas gravatas.

Preciso de mais tempo.

Para fazer os relatórios.

Corrigir mapas de vendas.

Verificar licitações.

Telefonar aos gerentes.

Identificar os produtos que se precisa urgente.

Preciso de mais tempo.

Para por minha agenda em dia.

Levar o carro para lavar.

Engraxar meus sapatos.

Organizar minha pasta.

Por em ordens documentos.

Verifica as contas dos bancos.

Fazer os pagamentos do dia.

Buscar nova freguesia.

Visitar clientes sem falta.

Verificar diferenças de preços.

Cortar o cabelo.

Fazer as unhas.

Torna-me mais apresentável.

Levar o relatório ao chefe.

Passar meus e-mails.

Não esquecer os fax.

Preciso de mais tempo.

Para por o trabalho em dia.

Preciso de mais tempo.

Para ganhar dinheiro.

Comprar o que preciso.

Educar meu filho.

Deixa-lhe herança.

E o tempo passa.

E passa o tempo.

E esqueci de me dá tempo.

De amar minha esposa.

De mimar meu filho.

De criar verdadeiros amigos.

De ajudar a quem precisava.

De perdoar os inimigos.

E não há mais tempo.

Para Deus.

Para minha alma.

E digo adeus ao tempo.
Em escura ignorância.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dizer não.

 
É difícil filho te dizer não.


Se tudo que te faz feliz

Faz-me mais feliz então.

E tão difícil te dizer não.

Pois, sei que teus desejos não são impossíveis.

É que sabes até onde podes ir.

E tão difícil te dizer não.

Porque meu coração se entristece

Com tua revolta juvenil.

Que não compreender a profundidade do que me pedes.

É difícil te dizer não.

Pois, vejo em teus olhos a tristeza infantil.

E sinto meu coração apertado por algo te ter negado.

Mas, filho meu tenho que te dizer.

Não.

Quando o que me pedes infliges as regras da minha consciência.

Ou te põem em perigos inúteis a tua idade.

Não me julgues mal por isso.

Pois, não há quem te ame na carne como eu.

Por isso ainda te direi, muitos e muitos não

domingo, 21 de novembro de 2010

Pranteio


Pranteio os que foram abandonados.

Porque esqueceram de si mesmo.

Porque os olhos já não vêem a luz solar.

E a boca murcha perdeu dentes.

E as palavras se atropelam na garganta.

O rosto cheio de sulcos.

O riso meio louco.

E os gestos vazios sem sentido.

As vestes sem modelos.

Os cabelos em desmazelo.

Alvos, brancos, nuvens de neves.

O cheiro da velhice que cisma contra o banho.

Medo da dor nos ossos.

Pranteio os que foram esquecidos.

Em suas histórias contadas setenta vezes sete.

E a mesma risada para a antiga piada.

A tristeza pelo suco derrubado à mesa.

Pelo engasgo constante com a comida.

Pelo silêncio constrangedor a sua fala.

Pranteio com eles.

Pela vida que já tão comprida se torna curta.

E temem pelo que vem.

Sem terem a certeza de para onde vão.

E clama pelos irmãos que partiram.

Pelos pais que já há muito seguiram.

E que no leito, no seu último dia parecem clarear a mente.

E conversam conosco como há muito não faziam.

E apontam: veja minha Mãe, minha irmã Maria!

E com um sorriso de harmonia.

Desencarnam em alegria.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um filho se perde aos poucos.

Um filho se perde aos poucos.

Quando ele saí de nós e cortam o cordão umbilical.

É a primeira grande separação.

Quando ele aprende a respirar sozinho.



Um filho se perde aos poucos.

Quando já não nos suga os seio em busca do alimento.

E prefere as papinhas e as sopas.

E empurra com pequenas mãozinhas nossos seios intumescidos de leite.

Ate que sequem como um pouco da nossa relação.



Um filho se perde aos poucos.

Quando desce dos nossos braços.

E preferem engatinhar pelos cômodos.

Quando dão os primeiro passos.

E correm pela casa aos tropeços.



Um filho se perde aos poucos.

Quando vão ao primeiro dia de aula.

Vestidinhos em fardas coloridas.

E nos deixam sozinhas.

Em casa. Esperando seu retorno.



Um filho se perde aos poucos.

Quando eles começam a ter amigos.

Jogos de bola, corridas, carrinhos e bonecos com quem falam.

E já não falam tanto com a gente.

E ficamos mudas olhando-os cresce.



Um filho se perde aos poucos.

Quando começam a escolher suas roupas.

Seus amigos.

Seus brinquedos.

Suas diversões.

Seus momentos de ficarem sós.



Um filho se perde aos poucos.

Quando começam a escolher a escola que querem freqüentar.

Quando vão as festas sozinhos.

Quando encontram seus primeiro amores.

Quando não desejam nossa companhia.



Um filho se perde aos poucos.

Quando se formam.

Quando trabalham.

Quando vão morar sozinhos.

Quando se casam.



E nesse momento doloroso em que reconhecemos que perdemos os filhos.

Os perdemos para o mundo.

Agradeçamos a Deus...

Por ter sido tão lenta a perca.

Que só quando o portão se fecha na hora da sua partida.

É que percebemos que eles se foram.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Procuro-te.





Enquanto não te conheço.

Enquanto não te sinto.

Enquanto não te vivo.



Procuro-te!



Nas letras dos antigos livros.

No ensino vezes vazio.

Nos papiros embolorados.



Procuro-te!



Nos arquivos empoeirados.

Nas gavetas emperradas.

Nas estantes há muito olvidadas.



Procuro-te!



No Alcorão.

Na Bíblia.

No Rig-Veda .



Procuro-te!



E encho-me de palavras.

De contos e fantasias.

De mitologia.



Procuro-te!



E em todo saber livresco.

Sobre ti muito se escreveu.

Sobre ti escreverão muitos.



Mas, com todo esse saber.

Que descobrir ao ler.

Não encontrei, Pai.



Em mim você.

domingo, 14 de novembro de 2010

Como?

Como ser o que sou?

Não sei.

Hoje sorrio por nada.

Amanhã a tristeza invade minha alma e a preenche de cinza morta.

E todos os projetos parecem ruir como um antigo casarão que não teve quem cuidasse.

As esperanças desmoronam feito paredes depois de incêndios.

Os sonhos são esquecidos por uma profunda amnésia.

E os olhos perdem o brilho que um dia tiveram.

Quantos haverá como eu?

Quantos estarão presos em seus próprios pesadelos.

Em suas lutas diárias contra a melancolia.

Sem saberem o que fazer.

Para recuperar a felicidade.



Mas, não são só dias de neblinas.

Há também os dias de Sol.

Em que o céu tem o azul que nunca teve.

E a brisa é silfo brincalhão nos cachos dos meus cabelos.

E as flores parecem me oferecer perfumes nunca dantes oferecidos.

E as pessoas parecem todas boas.

E posso abraçá-las com tanto amor que as espanto.

E sou feliz. Feliz como já fui quando criança.



Como ser o que sou?

Não sei.

Talvez sendo humana.

Tendo altos e baixos.

Luz e sombras.

Dias em que estou longe...

Dias em que estou perto de Deus e sua bem aventuraça.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Praga.

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como uma praga.

Que se espalhou e se espalha.

Por entre as frestas das casas.

Sob as portas.

Nas pequenas aberturas das janelas.

Nas escolas.

Nas aulas.

No recreio.

Nos jogos.

No futebol.

Na natação.

No trânsito que não anda.

No guarda que apita irritado.

No motorista que para contrariado.

Na senhora que atravessa a rua no sinal vermelho para pedestres.

No padre que não vai encomendar o corpo no cemitério.

No pai de santo que não cumpre a contento sua obrigação.

No exu que não entrega sua mensagem.

No anjo que adormece de tédio.

No demônio que vê sua tarefa cumprida.

No presidiário que vê suas esperanças perdidas.

No jovem que se entope de drogas.

Na mãe que trucida o filho recém nascido.

No filho que mata o pai por alguns trocados.

No velho abandonado à rua pelos filhos.

No parente esquecido eternamente no hospital.

No louco solto pelas ruas sem tratamento do estado.

No político corrupto e mau caráter.

Na jovem quem vende o corpo e a vida por uma situação financeira melhor.

Na criança que rouba e mata por uma lata de cola.

Na cola que é vendida por um adulto a criança.

Na compra de um DVD pirata.

No uso de criança para sexo.

No médico que não atende decentemente o doente.

No professor que não dá sua aula.

No aluno que não se interessa.

No funcionário que não cumpre seu dever.

É...

É uma praga.

De se fazer tudo em parte, em pedaços, mau feito.

Em crimes, em roubos, em enganos.

Em busca de uma vida de prazeres.

No levar vantagem em tudo.

No jeitinho sem escrúpulos.

Esquecemos o fim do corpo um dia.

Onde então serão pesados todos nossos atos.

E para nossa agonia.

Seremos empestados das pragas que criamos:

Crimes, violência, preguiça, dor, enganos, desamor, solidão e abandono.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Manchas


São manchas que carrego.

Manchas que impregnam minhas lembranças.

Fazem-me fechar os olhos.

E saber que naqueles momentos não usei de luz.



Manchas de ira contra os inimigos.

Manchas de inveja contra os meus superiores.

Manchas de egoísmos contra os meus irmãos do mundo.

Manchas de maldade contra outros seres.

Manchas de mentira em favor próprio.

Manchas de luxúria e insensatez.

Manchas de maus desejos contra os outros.

Manchas de leviandade.

Manchas de preguiça.

Manchas de injustiça para não sair perdendo algo.

Manchas de maledicência para ser aceita em determinado grupo.

Tantas, e tantas outras manchas.



Que minha alma escureceu.

Tornou-se um mata borrão.

Dos erros meus.

Dos meus delitos, dos meus enganos, dos meus equívocos.



Hoje nessa escuridão profunda.

Busco sequer uma luz.

Uma esperança nessa escuridade entranhada.

Chamada Jesus.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Plenitude.

De onde vens? Para aonde vais?

Vejo em teu rosto tantas marcas.

Que sorriso é esse que impera eterno em teu rosto?

Pois, se te vejo em condições tão miseráveis,

Não tens segue um calçado.

Tua roupa é rota.

Teus cabelos desgrenhados.

Tuas unhas escuras de terra.

De onde vens? Para onde vais?

Possivelmente hoje ou quem sabe até ontem não comestes.

O que te faz tão feliz?

Por que sorris?

Se não tem uma casa para voltar.

Um lar.

Uma cama para descansar o corpo.

Que ventura viveste nessa terra.

Que alegrias tantas tivesses.

Que mesmo na decadência sorris?

Qual boa ventura te abraçou a mocidade.

Que ainda te preenche o coração.

Quantos amores?

Quantos amigos te fizeram a vida cheia de ventura?

Quanta riqueza tivesse nas mãos?

E teu corpo foi revestido de seda ou linho?

É isso que te traz o riso no rosto?

As lembranças?

Mesmo quando hoje já não tens mais nada.

Ou tens algo que nos esconde?

Talvez uma alma saciada pela vida.

E que entregue os sonhos a Deus esteja plena.