quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dormindo.

Como é bom dormir.

Solta a alma dos grilhões da carne.

Voar sobre a cidade.

Sentir liberdade.

Como é bom dormir.

Ver com a alma os que se foram.

Matar saudades.

Dar beijos e abraços.

Como é bom dormir.

E conviver com os que não estão aqui.

Ouvir seus relatos.

Seus aprendizados.

Como é bom dormir.

E viver mil aventuras.

Mergulhar no mar sem medo.

Nadar junto a baleias e tubarões.

Como é bom dormir.

E ir a longe lugares.

Conhecer mil paisagens.

Sem sair do lugar.

Como é bom dormir.

Na ampulheta viajar.

Ir ao passado ou ao futuro.

Assisti-los sem os modificar.

Como é bom dormir.

Encontrar contigo.

Meu anjo de guarda meu amigo.

Que me leva a noite a passear.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Escada.



Realmente é uma imensa escada.


 
Que tem inicio no chão batido e se estende aos céus.

 
Tão imensa...


Não lhe vejo o fim.

 


Contudo inicio a caminhada.

 
É o único lugar aonde ir.



Não há outro.


Posso parar.


Posso deixar para mais tarde.


Posso ficar a ver o tempo.


Posso não me adiantar.


Mas, a cada passo que dou.


O degrau já pisado desaparece como mágica.


Então me vejo obrigado a subir.


E subo.


Às vezes também corro.


Com a alegria da criança.


Ou esmoreço feito o ancião.


Cansado da vida.


Deito-me e vejo o céu.


Ou baixo os olhos e preocupe-me com os pequenos escolhos nos degraus.


Mas, sempre continuo.


E para meu espanto...


Quando me lembro de olhar a mim mesmo.


Já não me reconheço como dantes.


A cada degrau mudei.


Deixei algo cair ou sair de mim



O que me era tão escuro.




Agora brilha mais um pouco.


As faces tão brutas.

 


Não tem as mesmas feições bestiais.


Os olhos já não são odientos.


E meus pensamentos mais leves.


Continuarei a subida.


Seja leve, seja íngreme.


Pois, nela me vejo a melhorar.


Mais leve mais limpo, mais homem, mais divino.





segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Espanto.


Imagino o céu.



Com nuvens róseas.



E estrada de tijolos dourados.



Árvores frondosas ladeando os caminhos.



E muitos canteiros de rosas em cada cantinho.



Haverá construções maravilhosas.



Para abrigar a quem chegar.



E anjos luminosos a me esperar.



Reencontrarei amigos e parentes amados.



E todos ao meu lado contarão sobre a nova vida.



Serei instalada em casa simples e bela.



Cheia de flores em vasos nas janelas.



Reaprenderei a toca piano.



E ficarei mais jovem a cada ano.



Não sentirei mais dores ou cansaço.



Estudarei os mistérios da alma.



E ajudarei como possa no que for necessário.



E a vida continuará mais leve.



E sonharei com outros céus longínquos.



Mas, minha âncora ainda presa a Terra



Os que lá deixei e ainda me esperam.



Minhas dividas a saldar.



Lembrarão que ainda tenho que voltar.



E eu, para meu espanto, pedirei.



Ao meu anjo uma nova vida no meu velho lar

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vida de passarinho.




Gorjeiam os pássaros nas árvores em cantoria matutina.



Alguns se elevam em vôo ao céu azul cristal.


Revoam as copas densas das arvores, em círculos perfeitos, como um balé.


Outros pousam e abrem seus sons saudando o amanhecer.


São cores com asas que cantam e revoam.


Enchendo o céu de sons.


Espetáculo pequeno e grandioso.


Mais um paradoxo da natureza.


Nos galhos mais altos estão os ninhos.


Onde filhotes famintos piam.


As mães e pais se agoniam.


E partem em busca de alimento.


Voltam um ou outro pro seus filhos.


E os alimenta com cuidado e carinho.


Um gavião corta o ar.


E possivelmente seus corações desembestam.


Mas, ele passa tranqüilo em seu vôo majestoso.


E afasta-se meio as nuvens.


O perigo passou.


E passado o perigo novamente alegres retornam ao seu coral de pios.


É como a vida.


Amanhecemos, trabalhamos, criamos prole, enfrentamos perigos...


Mas, sempre o mal passa.


E voltamos a nossa paz e momentos felizes.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Reescrevendo.


Quem dera pudesse ser melhor.

E caminhar cabeça erguida.

Mas, cá estou.

Onde não reina a mentira.

Onde tudo é visto e mostrado.

Mesmo sem o desejo ou permissão.

Desse lado não dá pra mentir não.

Todas as nossas mentiras.

Toda desculpa vã.

Todas as nossas culpas.

Estão registradas.

Em nós mesmos.

Somos livros abertos à leitura.

Que dignifica ou nos envergonha.

Para apagar histórias tristes e humilhantes.

Um novo mergulho na carne e na vida.

Uma forma de reescrever nossa história.

Com passagens mais puras e sentidas.

Com criação de novas conquistas.

Para nossa alma ser curada de tantas feridas.

E no retorno a verdadeira vida.

Não se envergonhar quando nossa alma for lida.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Lá no caminho...


Lá no caminho...



Lá vai o jumentinho, leve, leve como passarinho.



No seu dorso duas estrelas.



Um príncipe e uma princesa.



Orienta-os um homem anjo.



O caminho da vida que iniciam.



Fogem ao ódio e ao terror das trevas que na terra se implantou.



Lá vai o jumentinho, leve, leve, como passarinho.



Em seu dorso duas estrelas.



Que iluminarão a Terra por milhares de anos de amor.



Mãe e filho um só esplendor.



Nasce a grande luz no oriente.



Conta a história que na manjedoura



Entre os animais dóceis e amigos



Nasceu o menino, esperança dos desvalidos.



Amor incondicional, o Cristo.



E naquele dia algo mudou.



Haveria para nós na Terra um caminho novo.



Que exigiria o sacrifício do ego.



Mas, o troféu... A paz infinita.



No sorriso de Jesus menino.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Abandonamos.

Abandonamos nossos sonhos de infância.

Nossa pureza para com o mundo.

Nossas certezas dos contos de fadas e de papai Noel.

Nossas brincadeiras e a alegria que infernizavam os adultos todos os dias.



Abandonamos nossos bichos de estimação.

Esquecemos os peixes no aquário até que morrem sufocados.

Os nossos gatos aos quais fechamos as portas.

Os nossos fieis amigos caninos... Abandonamos.



Abandonamos os amigos que não nos seguem a rota.

Deles esquecemos como um lápis velho numa gaveta qualquer.

Não mais o procuramos, nem telefonamos, nem mesmo neles pensamos.

Como se nunca houvessem participado da nossa história.



Abandonamos nossos projetos.

Nossos objetivos e nossas metas.

Por medo, por falta de coragem, por fraqueza ou simplesmente por querer desistir.

E iniciamos algo novo... Que possivelmente terá o mesmo fim.



Abandonamos nossos pais.

A sua sorte.

A velhice que lhe tornam consorte.

Até que morram esquecidos de nós e deles mesmos.



Abandonamos nossos filhos.

Ao abrigo dos amigos, as festas e baladas, as drogas legalizadas.

Nos braços da juventude tão cheia de certezas.

Que muitas vezes os levam a precipícios e tristezas.



Abandonamos nossas crenças.

Para viver a vida.

E sofregamente a procuramos e nos enchemos de feridas.

Mas, buscamos a tal felicidade.



Abandonamos nossa alma.

Nossa fé.

Nossa bondade.

Esquecemos o amor, a caridade.



Abandonamos Deus.

Como figura alegórica.

Como criação humana.

Como uma figura imaginária.



Abandonamos a nós mesmo.

Abandonamos a essa vida.

Abandonamos nosso corpo.

Nos braços da morte.



È quando vemos que abandonamos tudo à sorte.

E que o destino que criamos é nosso próprio abandono.

Na consciência que pesa e sem luz perambula.

No novo mundo que entramos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

História de uma desencarnada.


Quando parti nada deixei.



Poucos me acompanharam a “última morada”.


Mas, tinha de ser assim.


Poucos resistiram ao que resisti.


Nasci na guerra, na primeira.


Meus pais me escondiam como podiam.


Tapavam minha boca.


E uma vez quase me sufocaram por isso.


O peito da minha mãe secou pela fome.


As batatas eram escassas.


Meu pai foi morto por um soldado.


Que não nos matou talvez por também ter esposa e filha.


Quem sabe?


O pós-guerra foi à fome.


A miséria era imensa.


Minha mãe se prostituiu.


Mas, não ganhava quase nada.


Muitas mulheres faziam a mesma coisa.


Vivíamos das sopas doadas nas porta das igrejas.


Nas ações de bondade particulares.


Ou nas ações do governo.


Desde pequena vagava pela cidade destruída.


Não gostava de ver minha mãe receber homens.


Ela envelhecia rapidamente.


Já não sorria.


Às vezes só para mim quando lhe leva uma flor campestre.


A vida foi dura para ela.


Morreu tuberculosa.


Fui recolhida a um abrigo.


Mas, não passei muito tempo.


Consegui emprego numa dessas casas que sobraram após o conflito.


Pois, tem gente que enriquece com a guerra.


Era faxineira.


O tempo passou casei com um homem simples sapateiro.


Tivemos três filhos.


Um faleceu.


Os outros dois perderam-se no mundo.


Veio o segundo conflito.


O terror, o medo, a fome.


Dessa vez foi pior.


Não existia honra.


Só morte e ódio.


Mas, findou como tudo.


Deixando a destruição.


E a obrigação de reconstruir.


E sofrer.


Meu esposo faleceu.


Eu fiquei só.


Envelheci.


Sem ninguém.


Adoeci sem ninguém.


Colocaram-me num abrigo de velhos.


Onde morri.

Não tive direita a última oração.


Ninguém chorou pela anciã que se foi.


Não havia beleza só rugas.


Num corpo decrépito.


Fiquei ali.


Mas, afinal não havia morrido?


O que me restava?


Ouvi meu nome.


Estarreci...


Levantei...


Estavam lá...


Todos...


Meus pais.


Meus filhos.


Meu esposo.


Meus amigos.


E como nunca tinha sido feliz em vida.


Estava-o sendo agora morta

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Trincheiras.



Leio tua última carta.

Suja chegou-me ontem.

Lágrimas correram dos meus olhos.

E beijei aquele papel amarelado.

Tremi ao abrir o envelope.

Sofri antecipadamente pelo conteúdo.

Parece-me ouvir tua voz.

Junto a minha quando cantávamos as modinhas

Na época da tua infância.

Vejo sua letra, modificou.

Já não tem mais as linhas indecisas.

Endureceram, escureceram, aprofundaram com tua aflição.

Fala-me primeiro da saudade, da dor e dificuldades.

Das trincheiras cheias de lama e ratos.

Dos amigos que tombaram junto a ti.

Do sangue que jorrava sem cessar dos que estavam mortos.

Dos gritos de socorro daqueles que não podiam ser auxiliados.

De ter que deixar para trás os que já amputados não caminhavam e choravam o abandono.

Lamentas pelos que na calada da noite calaram-se para sempre.

E separaram-se das mães, das esposas, dos filhos, dos amigos eternamente.

E que nesse momento, para teu espanto, nem teu coração nem teus olhos sofreram pesar.

E de repente mudas para lembranças antigas.

Para lugares distantes.

Para tua infância.

Para teus folguedos.

Teus amigos perdidos nos caminhos.

Alguns que partiram contigo.

Outros que não voltarão.

Fala-me dos teus sonhos de retorno.

Da tua última namorada.

Do teu último amor.

Dizes que voltarás...

Mas sei que não.

Há uma semana atrás.

Recebi outra missiva.

Que me avisava friamente.

Juntamente com a medalha de honra.

Tua morte nos combate da guerra inconseqüente.

Nas mortes sem sentido.

No fim da vida de nossos filhos.

Pelos interesses medonhos dos poderosos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma só.


Quero me encostar aqui em ti irmã.

Nas tuas tenras folhas.

No teu caule verde.

Aos pés das tuas raízes.

Quero que me abraces com o tempo.

E me envolvas em teus cipós.

E seja você eu e eu você.

Quero sentir quando o vento tocar tua casca.

E sorrir ao ver te tornar uma senhora imponente na mata cerrada.

Quero fazer parte da sua vida calma.

Contando as formigas a subirem pelas suas colunas.

Saudando o Louva Deus.

Imitando o canto das cigarras.

Ouvindo o pio dos pássaros nos nossos galhos.

Balançando ao vento nossas folhas.

Quero sentir teu abraço forte.

E tão apertado.

Que já não me existirão ossos, músculo, carne ou sangue.

E o meu e o teu espírito conviverão pacificamente.

Preenchendo a floresta com nossos cantos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sandice.


Quem sabe outra hora voltarei.

E em melhores condições estarei.

Então, serei melhor pessoa.

Amigos verdadeiros farei.

Felicidade duradoura trarei.

Hoje passo aqui rapidamente.

E minha mente se distrai com o mundo.

Como um brinquedo novo recebido.

Como uma nova canção a ser aprendida.

Ou um novo caminho a ser percorrido.

Mas, vá lá que me acuses.

De ser fútil aos extremos.

Da vida nada levar a sério.

Mas, assim decidi meu amigo.

Nessa vida ser assim.

Descartável como velhos amores.

Sem peso, sem pudores.

Só brincadeira, sem dores.

Perdi uma chance.

Com certeza?

Pois, em meu riso e alegria.

Abriguei os que estavam na dor e letargia.

De vidas amarguradas e doentias.

Quem sabe servi assim para alguma coisa?

E teu julgamento esteja não tão certo.

Pois, terei lançado sementes de ventura.

Nas almas recobertas de desdita.

E que nos momentos de minhas sandices.

Alegrei os corações desses infelizes.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Apelo a Mãe Maria


Apelo a Maria.
Mãe Maria ouve meu apelo.

Minha oração de coração.

Por toda criança infeliz sem pai, mãe ou irmão.



Mãe Maria ouve minha prece.

Para que todos sem exceção.

Possa ter na vida o pão.



Mãe Maria escuta o meu pedido.

Acolhe em teus braços.

Esse pequeno pela sociedade banido.



Mãe Maria grande é teu amor.

Recolhe ao teu colo.

Esses irmãozinhos em dor.



Mãe Maria que tudo esclarece.

Não permita que esses seres apodreçam.

Nas ruas, nas calçadas, nas sarjetas.



Mãe Maria que eleva.

Torna esses meninos feras.

Em anjos que em ti esperam.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Pés.




São pés chagados no caminho.

Vitimados pela longa caminhada.

Sujos do pó da estrada.

Rasgados por pedras e pedregulhos.



São pés que experimentaram tantas rotas.

Que às vezes a lugar nenhum levaram.

E então retornavam a mesma estrada abandonada.

Reiniciando a caminhada.


São pés de criança que cresceram

Pelas estradas da vida.

Sofreram, se esfacelaram e padeceram.

Pelos caminhos envelheceram.



São pés com marcas profundas.

São pés que viveram solitários.

Pois ninguém poderia por eles.

Fazer-lhes o itinerário.



São pés que marcaram o primeiro barro virgem.

Que traçaram os primeiros caminhos.

Que criaram as primeiras estradas.

E por elas perpetraram sua macha.



São pés que cansaram.

Cansaram da dor e da destruição.

E por um momento pararam.

Em meio a uma multidão.



E pés e corpo conheceram.

O tormento e a injustiça.

Na face daquele homem.

Posto miseravelmente a cruz



E os pés mudaram de estradas.

E todas as suas caminhadas.

Todas as trilhas palmilhadas.

São agora em glória de Jesus.