terça-feira, 23 de junho de 2009

Avó Tila.


Avó Tila.

Esqueceu de mim?

De como me punha no colo

E cantava as canções de ninar.

Levava meu paninho, minha fralda velha, para eu cheirar.

E no seu colo de senhora

No seu cantar monótono e longo

Eu adormecia, enquanto ainda era um anjo.

Esqueceu de mim?

Das brincadeiras de fingir de morta

E pular repentinamente como quem ressuscitou.

Dos carinhos que fazia na minha cabeça

O cafuné tão bem aplicado.

Esqueceu de mim?

De como me dava à mão ao atravessar a rua

E me mostrava à fumaça saindo do cigarro enquanto dizia:

“assim, como essa fumaça que se desfaz rapidamente é a mocidade que se esvai”.

Ou puxava a pele da mão enrugada

Que não retornava logo ao lugar.

“Vê, sinal da velhice”.

Foi-se sem eu ver.

Estava longe.

Estava triste.

De sua maneira gostava de ficar conosco.

Partiu.

Esqueceu de mim?

Eu não a esqueci.

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